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Rodrigo Freitas: quando uma emissora de TV “vira” Polícia Civil, MP e Justiça

Publicado originalmente no perfil do autor no Instagram

Me permitam um textão. Respeito muito o Grupo Globo. Trabalhei lá entre 2009 e 2010. Respeito demais colegas e amigos queridos que dão duro todos os dias na TV, no digital e no rádio. Meu desabafo aqui vai mais falar sobre os métodos do que sobre qualquer profissional.

No domingo, dia 3/9, a Secretaria de Comunicação de Contagem recebeu, por e-mail, depois das 22h, uma denúncia da TV Globo de que larvas estariam sendo servidas em apenas uma de duas mil marmitas destinadas a pacientes do complexo hospitalar do município. Na segunda-feira, dia 4/9, a matéria foi ao ar no jornal matinal às 8h13, ou seja, sem que nós pudéssemos apurar os fatos e nos defender enquanto prefeitura.

Pior que publicar a matéria sem nos dar tempo hábil para resposta, foram os julgamentos colocados em cada reportagem. Foram os denunciantes em off que apareceram sem qualquer comprovação do que diziam. Foi colocar no ar sem qualquer cuidado uma pessoa que desviou o foco da injúria que ela cometeu dentro do hospital para se passar por “denunciante” da suposta comida com larvas. Pior foi ver a cara de nojo que alguns âncoras fizeram, além da sugestão constante de que a prefeitura precisava afastar a empresa que fornece a alimentação. Mal sabem eles que, na administração pública, não se consegue trocar uma empresa como se troca, por exemplo, uma camisa. Seria melhor deixar pacientes, acompanhantes e servidores com fome?

Hoje, a Polícia Civil trouxe a verdade à tona. Foi armação. Sabotagem. Sacanagem, pra falar em português claro. Porém, o prejuízo de imagem que tivemos a partir do linchamento público dificilmente vai ser restabelecido, assim como a credibilidade do SUS, colocada em xeque por uma denúncia que viralizou sem qualquer comprovação. Jamais teremos o mesmo espaço das denúncias em manchetes quentes e “sensacionais”, pra dizer o mínimo.

Trabalhei na imprensa por quase duas décadas. Na Globo, trabalham dezenas de companheiros éticos. E não é deles que estou falando. Se magoo alguém, peço desculpas. O jornalismo pode ser incômodo, mas não pode ser inconsequente. Denúncia é diferente de denuncismo. Ser popular é diferente de ser popularesco. Os dois lados precisam sempre ser ouvidos.

Rodrigo Freitas é jornalista.

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