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Rodrigo Freitas: Funec é o espaço do saber e do encontro

Quinta-feira, 25 de abril de 2024. O relógio marcava 16h42 quando entrei pela portaria da rua Bernardo Monteiro, número 20, no Centro de Contagem. Houve em mim uma sensação de que eu voltava no tempo. Mais precisamente no ano de 2001, em fevereiro, quando ali pisei pela primeira vez como estudante. Senti-me novamente aquele adolescente de 15 anos que havia saído da Escola Municipal Pedro Pacheco de Souza e naquele prédio chegava com um certo medo do novo, mas também com uma grande bagagem de sonhos. Meus olhos se encheram de lágrimas, que tratei de conter para não desabar de vez. Um verdadeiro mar de lembranças meio veio à tona.

O prédio em questão é o da Funec, unidade Centec, onde cursei o ensino médio entre 2001 e 2003. Desci as escadas que dão acesso ao pátio e passei defronte ao corredor que dava acesso à sala onde estudei por três anos, que estão entre os mais incríveis da minha vida. Atrasado, cheguei só até a porta, mas me vi novamente em uma daquelas carteiras, sentado no canto direito, na quarta ou quinta fileira, como foi na maior parte daqueles três maravilhosos anos. Lembrei-me de certamente quase todos os colegas – alguns viraram amigos de uma vida.

Minha memória me levou a esses amigos de vida. Foram os mais incríveis amigos da adolescência, com quem eu trocava aquelas longas horas de confidências sobre amores frustrados. Fazíamos tudo juntos: dos trabalhos da escola a shows no antigo Mafunfo, passando por visitas aos idosos do Lar Maria Clara, que só precisavam de um pouco de escuta para suas incríveis histórias.

Lembrei-me da Raquel, certamente a amiga mais carinhosa que já tive até hoje e cujo pai – o saudoso Seu Ronaldo – sempre me colocava contra a parede, quando eu ia à casa deles, perguntando se eu não tinha nada para lhe perguntar. Ele desconfiava que a gente namorava e queria que eu pedisse permissão a ele. Entretanto, não havia namoro. Havia realmente uma amizade muito intensa e cheia de cumplicidade. Dona Joaninha, a mãe da Raquel, acho que sempre entendeu essa nossa relação como uma amizade de vida.

Lembrei-me dos debates sobre as aulas de história com a Clarissa, que se formou na área e hoje é uma brilhante professora. Clarissa tem opinião forte desde a adolescência e gostava de se posicionar sobre os temas sociais. O pai dela, Seu Luiz, que já não está mais entre nós, gostava de conversar comigo. Ficava facilmente uma hora falando sobre política e futebol comigo. Que saudade! E a mãe, Dona Nenza, fazia sempre um lanche delicioso.

Ainda olhando para aquela sala, lembrei da Morgana, que me ajudava com a biologia e com quem eu também trocava confidências. A mãe dela – a Beth – me tratava como filho quando ia à casa dela fazer trabalho e fazia almoços que nunca saíram da minha memória. O pai, Arilton, era mais um que adorava sentar com aquele adolescente metido a discutir política e ficava minutos e minutos dando ouvidos a meus pensamentos.

Lembrei-me da genialidade da Mara para as ciências exatas, da vez em que ela, aluna exemplar, foi pega pela professora de inglês com uma cola e morreu de vergonha. Acho que foi a única vez em que a Mara colou em toda a vida dela. Os pais, Sérgio e Maria, eram acolhedores e carinhosos. Certa vez, busquei abrigo na casa dela em um dia triste, depois de uma decepção.

Como não lembrar da Soninha? Ela era a pessoa que mais se destacava nos teatros da turma com sua carga dramática (no sentido cênico) e tinha sempre um jeito de falar que era tão carinhoso que me reconfortava. Seu Ari Orizontino (com a letra “o” mesmo) era um pai muito rígido, mas incrivelmente gostava de mim. Dona Enedina, a mãe dela, era a doçura em pessoa!

Em minha mente, veio também o Elvis, que estudou com a gente apenas no primeiro ano, mas morava na mesma rua que eu. Naquele 2001, passava lá em casa todos os dias pontualmente às 6h15 para irmos à escola. Responsável, trabalhava desde cedo ao lado do padrasto Geraldo, mecânico de mão cheia. A mãe, Ivônia, era apaixonada pelo rádio assim como eu e sempre falava que um dia me veria brilhar no microfone. Minha mãe gostava tanto do Elvis que dizia que, se tivesse tido uma filha, gostaria de tê-lo como genro.

No primeiro ano, íamos para o Centec Elvis, Vanessa e eu. Morávamos no mesmo bairro. Vanessa sempre se atrasava. Era divertida, engraçada e inteligentíssima. Era também uma companheira de confidências, de paixão pelo Cruzeiro (suas unhas pintadas de azul nunca negaram isso) e tinha uma família que era muito especial. Seus pais, Seu Nilo e Dona Luzia, sempre me agarravam lá sem me deixar ir embora com boas conversas que remontavam ao tempo em que eles foram morar na Vila Belém quando tudo ainda era mato! Vanessa e eu íamos e voltávamos juntos da Funec Centec todos os dias. Foram três anos assim.

Lembrei-me ainda do Washington, com quem eu criei uma rádio no corredor do Centec. Igualmente apaixonados pelo rádio e pelo futebol, nos complementamos. Eu era o narrador e ele o repórter. Seu Célio e Dona Regina, pais dele, me recebiam no Icaivera com carinho de pai e mãe. Dona Regina me chamava de “filho branco”. Washington e eu entramos juntos na faculdade de jornalismo e nos formamos juntos. O tempo o afastou de nossa turma, mas não o esqueço!

Nas minhas reminiscências, lembrei ainda de professores incríveis. Viviane, de física, de tão sensacional, virou amiga da turma e está com a gente até hoje. Ela era engraçada com um misto de braveza e simpatia dentro de sala que a tornava única. Andava cheia de bugigangas para fazer experimentos e conseguiu um milagre: me fez gostar da matéria que ela lecionava. Em meu coração, ainda estão Diumaire e Michetti, grandes professores de geografia e história respectivamente; Kátia, de matemática; Marlene, de português e literatura; Mariza, de biologia; Moacir, de química; Lindalva, de artes; e o disciplinário Rômulo e sua célebre frase: “Aluno é aluno e aluno é aluno”.

A Funec Centec me marcou com os amigos de toda a vida que tenho até hoje. Raquel, Clarissa, Morgana, Elvis, Mara, Vanessa, Soninha, Clarissa e Viviane são um grupo incrível de pessoas de quem eu não posso abrir mão de conviver. Morgana ainda se casou com meu xará Rodrigo, que chegou à nossa sala no terceiro e último ano do ensino médio. Mais um que, mesmo com seu jeito mais reservado, se tornou parte dessa grande família. Estivemos juntos em todos os momentos mais felizes da vida uns dos outros e em todos os momentos mais tristes também. Já rimos e choramos juntos incontáveis vezes. Nos encontramos sempre que possível e sabemos que, a qualquer necessidade, estaremos lá um do lado do outro. Diumaire se reencontrou com a gente mais recentemente.

São, repito, os amigos de uma vida. São os amigos de todas as horas. São os melhores amigos que alguém pode ter. E o mais incrível é que maridos e esposas de toda essa turma se tornaram amigos também. Viramos um enorme grupo que, com a chegada dos filhos, precisa se reunir sempre no salão de festas do condomínio da Clarissa, que comporta toda essa gente. Mais lindo ainda é ver que meu filho, Bernardo, e Melissa, a filha mais nova da Morgana, estão se tornando grandes amigos. Eles têm idades próximas e uma sintonia que dá gosto de ver… Parece que vão repetir a história de amizade dos pais!

Depois de parar por uns momentos com os olhos marejados na porta daquela sala cheia de histórias, me apressei para descer mais um lance de escadas e chegar ao ginásio que estava sendo inaugurado no Centec. As duas antigas quadras descobertas deram lugar a uma construção nova, moderna e bonita que a prefeita Marília Campos estava entregando. Era um sonho desde o meu tempo de aluno. Fiquei emocionado.

Eu voltava naquele momento à Funec como subsecretário de Comunicação do governo Marília, a maior gestora pública da história da nossa cidade. Justamente lá na Funec, onde eu me descobri efetivamente como um comunicador apresentando formaturas, festivais de arte e fazendo uma rádio no corredor. Com grandes professores, ganhei a base de conteúdo que me levou ao curso de jornalismo. Na Funec, eu recebi oportunidades de ter os melhores amigos que alguém pode ter e de ter uma formação sólida, que permitiu que eu alçasse voos mais altos do que minha infância me permitiu sonhar.

A entrega do ginásio não foi apenas uma inauguração. Em meu coração, foi um redemoinho de sentimentos. Um mar de lembranças. Orgulho de uma trajetória. Emoção em doses cavalares. Lágrimas contidas para que ninguém visse o meu choro de alegria.

Por isso hoje, eu peço licença a você leitor deste blog para deixar de lado as análises que escrevo aqui a cada 15 dias. Hoje, eu precisava falar com o coração. E foi isso o que fiz aqui neste texto carregado de sentimentos. Mais do que nunca, a Funec é o espaço do saber e do encontro. O encontro que tanto prezamos em nosso governo. E, sobre isso, eu posso falar!

Rodrigo Freitas é jornalísta.

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