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Qual é o ritmo de 2024, artigo de Guilherme Jorgui

Pensemos as eleições como uma festa, como um casamento de família grande no interior. Os noivos se equivalem aos candidatos, que são o epicentro do evento. Mas também é divertida a algazarra de vozes e conversas que a reunião propicia. Tem a euforia sincera do reencontrar de rostos há tempos não vistos, bem como a animação das expectativas representadas para a ocasião em si.

Poder nos apresentarmos com nossa melhor roupa nos causa bem-estar; remorar saudosamente realizações, perpassando à promessa de outras, também.

É o encontro cheio de histórias entre aqueles que já tiveram um entrevero qualquer no passado, mas que hoje caminham juntos. É o perdão sincero dos que excederam (toda festa tem uns desses), mas o fizeram de bom coração.

Tem também a crítica entredentes, nem tão inconscientes, àqueles que nos ofuscam ou que sentimos nos ameaçar. Histórias sem um ponto final muito claro, relatos de ódio sustentados em traição ou “afetos” não correspondido.

O arremessar do bouquet é uma espécie de últimos dez dias de campanha. Quem já se arranjou (uma boa campanha, com planejamento, estratégia e recursos) acha engraçado mas não se envolve. Pelo menos não diretamente. Quem está mais desesperado (não teve fundos, não se programou, lançou-se de última de hora), vai pro tudo ou nada. E nessas horas é dedo no olho, cotovelada gaiata, ombrada marota, joelhada zombeteira… Tudo que é vetado mas que possa ser dissimulado de acidental.

A apuração é o servir das taças. Uns brindam com o que comemorar, outros brindam por brindar. Há os que se encharcam, e os que bebem moderadamente. Tem até quem beberica só para não dizer que não bebericou.

Mas é a repercussão do dia seguinte que diz o que a festa foi, individualmente, para cada convidado. Para alguns, a ressaca vem com um filme que começa a ser editado na cabeça. Dos recortes desconexos à busca uma sequência lógica. Por fim, o gosto amargo da derrota e o olhar mais à diante, com a dúvida íntima: “vale a pena participar da próxima festa?”

O ritmo da “celebração” é frenético; nem bem termina uma eleição e já começa a outra. Surrando um clichê, 2024 já começou.

E como já se desenha a lista de convidados dessa próxima cerimônia?

Em Contagem, a polarização que revisitou as últimas eleições nacionais acabou enfraquecendo a direita nativa da cidade. O campo conversador local deu votação expressiva a duas lideranças de fora, canibalizando deputados mais identificados com o município. Com isso, não reelegeram um deputado federal e um deputado estadual da cidade. Ainda nesse campo, a expectativa da eleição de “novas lideranças” não passou disso: expectativa.

Tomando por base outro lugar-comum, o de que em política não existe espaço vazio, a esquerda nativa, por sua vez, elegeu seu deputado federal, Miguel Ângelo (PT), e projetou dois belos nomes, duas mulheres: a vereadora Moara Saboia (PT), que saiu das urnas com expressivos 38.640 votos (sendo 18.059 em Contagem) e Adriana Souza (PT), com seus 25.314 votos.

Para o próximo “baile”, quem comandará a valsa é a prefeita Marília Campos. É ela quem vai ditar o ritmo, bem como o giro dos pés. E o cenário hoje aponta que tem tudo para ser uma festa sem grandes intercorrências à sua grande protagonista.

Muito bem avaliada, a prefeita percorre a cidade e conversa diretamente com as pessoas nas ruas, comentando e respondendo sobre as muitas realizações da sua gestão – sempre carinhosamente acolhida.

Em política tudo pode acontecer. Pode surgir uma nova liderança no caminho? A direita nativa conseguirá se reagrupar e apresentar um candidato viável, com propostas factíveis que consigam contrapor as realizações e o carisma da atual prefeita? Na esteira de um futuro imponderável, a possibilidade de que nada disso aconteça também está posta.

Entretanto, contraintuitivamente ao que o ritmo do texto sugere até aqui, um horizonte favorável não pode ser um convite à acomodação. Até porque o indeterminado que ameaça um lado, por indeterminado, também assombra o outro. Na história encontramos vários registros do acaso fazendo florescer candidatos inimagináveis. Do inviável ganhando status de possível; da imprecisão ganhando contorno de certeza.

É necessário reconhecer que a principal legenda de oposição ideológica ao campo progressista, o PL, sai dessas eleições com uma grande estrutura econômica e partidária, com indicação de participar ativamente das próximas eleições municipais.

Vantagens competitivas são uma convocação a reafirmá-las, todos os dias, com muito trabalho, espírito democrático e humildade.

Guilherme Jorgui é jornalista.

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