topo_M_Jose_prata_Ivanir_Alves_Corgozinho_n

SEÇÕES

Marco Antônio Silveira: Como você pode ajudar a melhorar a mobilidade urbana?

É sempre um grande desafio escrever e pautar reflexões sobre a mobilidade urbana, tema normalmente árido e que quase sempre fica restrito aos “congestionamentos de trânsito”, “ao preço caro da passagem de ônibus e metrô”, aos “acidentes de trânsito” (hoje denominados sinistros de trânsito) e a alguns outros aspectos tão importantes quanto estes citados. Isso é o que se ouve e se lê diariamente nos diversos meios de comunicação (TV, rádios, jornais) e nas mídias digitais em geral.

É senso comum ouvir as pessoas afirmarem, dentre tantos aspectos, que o “trânsito nas médias e grandes cidades é muito ruim” e que o “transporte público coletivo é precário”, o que, infelizmente, em muitos casos reflete a realidade. Também é habitual que os gestores públicos sejam sempre apontados como os únicos responsáveis pelos problemas de mobilidade urbana.

Até aqui não trouxemos nada de novo para você que nos lê agora, sobretudo se você mora ou trabalha em uma metrópole, como Belo Horizonte, ou em uma cidade grande como por exemplo a cidade de Contagem.

Pausa para reflexão… Voltemos ao título deste artigo. “Como você pode ajudar a melhorar a mobilidade urbana?”

Esses ônibus não prestam; sempre cheios e ainda pagamos um absurdo pela passagem

Será que não tem Engenheiro de Trânsito nessa cidade? Os sinais estão sempre fora de sincronismo e demoram um tempo enorme para abrir!

O pedestre que se dane né! Cadê o Prefeito para fazer uma passarela aqui para dar maior segurança?

Pra quê fazer ciclovia? Passo aqui todos os dias e nunca vi uma bicicleta passando! E os carros ficam estrangulados porque fizeram essa maldita ciclovia!

Tem que proibir caminhões de passar na minha rua. O barulho é demais e com o peso o asfalto fica todo esburacado!

“(passageiro dentro do ônibus pensando…) Ah meu Deus pra quê esse velhinho tinha que sair de casa justo hoje e atrasar minha viagem! Já é aposentado e fica ocupando lugar aqui. Levou “meia hora” pra subir no ônibus! Aff!

Gente, que motorista doido e irresponsável! Estacionar o carro justamente na vaga destinada a embarque e desembarque de pessoas com deficiência! Como vou fazer agora para deixar meu filho, que é cadeirante, na clínica para fazer a fisioterapia?… Também não tem fiscalização nessa cidade né!

Eu aqui no ponto de ônibus, em um calor infernal, e não tem nem um banquinho para assentar. Tudo quebrado e destruído. Cadê a Prefeitura gente que não olha essas coisas? Pobre nasceu pra sofrer né! Só Jesus na causa!

Esses motoqueiros são doidos! Ficam passando no meio dos carros na maior velocidade e ainda querem preferência no trânsito. Tá tudo doido neste mundo nos dias de hoje

Que saudades do tempo em que tinha trem de passageiros aqui e nas cidades vizinhas. Tempo bão né, que acho que não voltará nunca mais!

Todo dia na hora de entrada e saída dos alunos dessa escola o trânsito vira um inferno. Carro em fila dupla direto… Quem passa que se lasque né!

Todas essas “falas e exclamações” eu vi, ouvi, pensei ou testemunhei ao longo da minha vida. Atrevo-me a dizer que são muito verdadeiras e expressam sentimentos comuns do cidadão e cidadã que transita nas cidades. Você concorda comigo?

Neste contexto, estamos propondo uma reflexão sob um outro olhar, que não o de sempre culpar os gestores públicos ou o “outro cidadão e cidadã que dividem conosco a disputa pelo espaço e tempo nos deslocamentos em nossas cidades”.

…. Novamente a pergunta: “Como você pode ajudar a melhorar a mobilidade urbana?

Vamos refletir um pouco!

O direito de ir e vir é assegurado para todas as pessoas, conforme estabelecido na lei maior do país, a Constituição Federal. Então por que razão vamos nos “revoltar ou criticar o idoso ou a pessoa com deficiência” que precisa se deslocar para suas atividades, como por exemplo ir ao médico ou a um banco? Você que é jovem e saudável já parou pra pensar que ficará velho um dia ou até mesmo poderá adquirir alguma deficiência física e vai também passar pelas mesmas dificuldades dessas pessoas? Se parar e pensar, talvez você mude o seu comportamento e ajude a gerar gentileza na mobilidade urbana.

Uma cidade mais inclusiva e saudável precisa de ter ciclovias. As cidades não podem viver única e exclusivamente em função de automóveis e motocicletas. É preciso oferecer à população a possibilidade de ter locais apropriados e seguros para andar de bicicleta. Você já pensou em usar a bicicleta para alguns deslocamentos da sua vida, ainda que sejam por apenas um dia na semana ou por alguns minutos, deixando de transitar com o seu automóvel? Faça essa experiência e você poderá se surpreender com os benefícios para sua saúde e para o seu “bolso”, pois esse meio de locomoção é muito mais barato e acessível.

A fila dupla na porta das escolas nos horários de entrada e saída é um problema sério em todo o país, problema decorrente muitas vezes da falta de planejamento urbano e de legislações que não exigem que se tenha vagas de estacionamento ou áreas apropriadas para embarque/desembarque dos alunos. Quem é pai ou mãe de uma criança e já teve ou tem que levar seu filho na escola, certamente já “parou em fila dupla por um minutinho só” e vez isso sem pensar nos que passam por ali. Será que dá pra mudar o comportamento e tentar chegar mais cedo ou estacionar um pouco mais afastado, evitando a fila dupla e com isso contribuindo para o trânsito melhorar?

Você já reclamou alguma vez que falta fiscalização de trânsito? Provavelmente sim, mas também muito provavelmente já tenha xingado horrores quando levou uma multa por estacionar em local proibido ou dirigir em alta velocidade. Que tal refletir um pouco e ajudar respeitando a sinalização e as normas de circulação, contribuindo para melhorar a sua segurança e acessibilidade e de todos os demais que estão se deslocando!

Quem danifica e depreda os abrigos de ônibus? Provavelmente algumas pessoas ou seus familiares que vão precisar dele em algum momento. Você já viu alguém fazer isso? E se viu tentou impedir ou acionar a polícia? Lembre-se que o custo para consertar o abrigo sai do seu bolso, através dos impostos! Vamos ter mais cuidado e ajudar a preservar os abrigos? Quem sabe orientando seus filhos, familiares e amigos para lembrar de que é importante ajudar a conscientizar as pessoas sobre isso. Os que utilizam ônibus agradecem antecipadamente a sua mudança de atitude!

Saudades do trem de passageiros e de um metrô mais efetivo e de maior alcance? Isso não basta e não resolve, pois é preciso se engajar nos movimentos sociais que defendem que haja retomada e melhoria do transporte de passageiros sobre trilhos. Não seria ótimo se na sua cidade você tivesse diversas opções de transporte coletivo de passageiros, tais como metrô, trem e ônibus? Claro que sim. Então fique atento e se engaje na luta pela melhoria do transporte coletivo, pois sabemos que o transporte individual motorizado não vai resolver os problemas de mobilidade. Nesse sentido, vale saudar e mencionar aqui as iniciativas e os esforços de algumas Prefeituras em pautar e tentar avançar na melhoria do transporte, como é o caso de Contagem, com o SIM – Sistema Integrado de Mobilidade; de Belo Horizonte, com o BRT Amazonas, e do próprio Governo do Estado em melhorar as condições do metrô, com a expansão da linha 1 e a construção da linha 2 (Barreiro – Calafate). Não menos importante vale saudar as iniciativas do Poder Legislativo, fazendo audiências públicas para debater o tema, como por exemplo a que ocorreu nessa primeira semana de abril/2025 em Contagem e abriu portas para que ocorram outras em cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Resumindo, o que proponho aqui é uma reflexão sobre as considerações que expusemos nesse artigo, como um ponto de partida para pensarmos que é possível ajudar na melhoria da mobilidade. Pequenos gestos, pequenas atitudes, mudança de postura e sobretudo um olhar mais gentil e generoso para com o outro, certamente vão contribuir e muito para melhorar a mobilidade urbana na sua cidade. É preciso ousar, quebrar paradigmas, enfrentar as resistências e pensar nas soluções de forma mais abrangente e integrada, ajudando as pessoas e os gestores públicos na solução dos problemas.

Vamos nessa? Com a palavra você, caro leitor e leitora. Vale a pena a reflexão.

Marco Antônio Silveira é Engenheiro Civil e especialista em engenharia de tráfego e transportes

Outras notícias