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José Rodrigues e Laura Adler: Os Paradigmas da Arborização Urbana: O Projeto Riacho Verde

A humanidade encontra na atualidade grandes desafios em sua travessia histórica, principalmente no que diz respeito a relação de equilíbrio com a natureza. Fato este que destaca inúmeras preocupações com a sobrevivência humana no planeta terra.

A centralidade do olhar humano para o avanço de forma incontida sobre os recursos naturais, a partir de uma lógica de dominação, tem causado enormes transtornos ambientais, com o consumo de uma massa de recursos naturais crescente e superior as necessidades reais e objetivas dos quase 8 bilhões de humanos distribuídos pelo planeta.

De acordo com o “Relatório Especial sobre o Aquecimento Global de 1,5°C”, elaborado por milhares de pesquisadores, representando grande parte dos países (inclusive do Brasil) e coordenado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, da sigla em inglês), as atividades humanas já causaram o aquecimento global de cerca de 1,0°C acima dos níveis pré-industriais. Mantido o ritmo atual, o aquecimento global poderá atingir 1,5°C entre 2030 e 2052.

Antônio Guterrez, secretário geral da ONU afirma: “As temperaturas globais continuam subindo. Nosso planeta está se aproximando rapidamente de pontos de inflexão que tornarão o caos climático irreversível. Estamos na estrada para o inferno climático com o pé no acelerador”. A fala nos aponta a imprescindibilidade de um chamamento universal para respostas efetivas e sólidas, atitudes coletivas e individuais, no exercício da consciência para sobrevivência da geração presente e a garantia das gerações futuras.

Os suspiros do planeta externados em fenômenos “raivosos” alcançam toda a sua extensão reconhecido e afirmado no palco das COPs, organizadas pela ONU com início histórico em 1992 com a ECO-92 no Rio de Janeiro, expressam sempre o agravamento das mudanças climáticas e reafirmam e ampliam as metas pactuadas. O Brasil receberá em 2025 a COP-30 com grandes expectativas dos resultados que serão aferidos da COP-28, ocorrida em 2023. Tem se constatado grande dificuldade de os países ricos cumprirem suas metas e fazer os investimentos necessários para o equilíbrio climático.

A saga da grande ocupação urbana tem contribuído significativamente para a agressão e desrespeito às leis universais que regem a dinâmica silenciosa da natureza, as florestas abrigadas nestes espaços deram lugar a uma enorme massa de humanos que além de destruí-las, impermeabilizaram o solo, fato que contribui significativamente para inundações, aumento da temperatura e poluição do ar.

As cidades verdes se apresentam como uma efetiva contribuição, sendo a arborização essencial no planejamento de cidades sustentáveis. Com resultados objetivos para sombreamento, purificação do ar, diminuição da poluição sonora, no embelezamento e paisagismo, e na diminuição dos impactos das chuvas.

Em cidades com planejamento urbano eficaz, a arborização destaca-se como um elemento de equilíbrio ambiental e estético, frente as agressões sofridas pelo ambiente natural – como aberturas de vias, pavimentação, construções diversas e uso de muito concreto e asfalto – que tem resultado a impermeabilização do solo, redução significativa da cobertura vegetal, aumento da temperatura e da poluição sonora, visual e hídrica e entre outros.

Um exemplo foi a análise do clima local da cidade de Curitiba, realizada por Leal (2012), verificou que nas regiões com maior quantidade de áreas permeáveis, concentração de remanescentes florestais ou presença de áreas verdes públicas ocorreram menores temperaturas e aumento da umidade relativa do ar, atuando como “ilhas de frescor urbano”.

Nossa Contagem, recebeu historicamente intervenções de arborização sem planejamento e acompanhamento técnico, fato que tem gerado uma série de transtornos à sua população afetando as redes de distribuição de energia elétrica e telefônica, as calçadas e as ligações de água e esgoto, impactando a vida cotidiana dos cidadãos e gerando custos ao poder público para podar, suprimir, ou substituir uma árvore. Além disso, cria-se uma resistência na população para o processo de arborização urbana, que se torna oneroso e burocrático.

Intervindo nessa lacuna histórica e garantido seu papel constitucionalmente descrito no artigo 225, § 1º, inc. III, da Contituição Federal, “incumbe ainda ao Município definir “espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção”, Contagem lançou o Plano Municipal de Arborização Urbana.

Foi realizado então, por parte do poder público municipal – através de planejamento e profissionais habilitados e demais setores responsáveis pela arborização urbana – um planejamento de atuação eficiente, que segue as leis pertinentes, para assim colaborar com escolhas corretas de plantio, constante manutenção das espécies arbóreas e demais preocupações que tangem a arborização urbana de Contagem. Evitando assim prejuízos e acidentes e transformando o ambiente urbano o mais agradável possível.

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Contagem tem desenvolvido um trabalho exemplar em diversas frentes de atuação ambiental que posiciona o município como exemplo a ser seguido por demais cidades mineiras. Com políticas de controle, fiscalização, defesa animal e planejamento, se destaca a reestruturação verde da cidade por meio do projeto Verdejar.

Todas essas iniciativas promove uma visão integral da cidade quando o assunto é conservação do meio ambiente, tal posicionamento depende de uma visão global que vê com clareza e capacidade os problemas ambientais de Contagem e suas soluções a curto, médio e longo prazo.

A gestora Marília Campos é peça crucial para a elevação do status de Contagem para o de um município que se preocupa com as questões do meio ambiente e tem, cada dia mais, promovido ações efetivas de conservação que se utilizam de tecnologias e pesquisas atuais. Um exemplo é o próprio projeto Verdejar, já citado, que de 2021 a 2024 plantou 12.942 mudas na cidade. As mudas foram plantadas em locais estratégicos como UBS, escolas, área verde, além dos grandes corredores da cidade, como as avenidas João César de Oliveira, David Sarnoff , Durval Alves de Faria, Severino Ballesteros, entre outros.

Riacho Verde – Uma Contribuição Ambiental para a Regional Riacho

Quando tratamos de cidades sustentáveis ambientalmente elas devem expressar uma paisagem urbana que transmita beleza e harmonia, propiciando a população uma sensação de integração e prazer. Para isso é necessário o investimento em políticas que tenham como objetivo garantir o efetivo direito ao meio ambiente saudável, buscando o equilíbrio entre o desenvolvimento industrial e econômico com as necessidades de preservação do meio ambiente.

O projeto Riacho Verde constitui-se como uma contribuição para redução dos graves problemas que enfrentamos no tempo atual através do plantio consciente de árvores nas ruas que constituem o território da Regional Riacho, tendo como prioridade as calçadas que apresentam, através de tocos, as marcas de árvores inadequadas ao espaço urbano. O projeto também prevê corredores verdes que conduzam os parques que a cidade abriga, assim como os córregos, de forma a mantê-los abertos.

No período de 1 ano, entre 2022 e 2023, o projeto plantou cerca de 1000 árvores nos limites do território da Regional Riacho, tendo as calçadas como prioridade, mas também nos canteiros centrais e nas praças. A equipe da Regional Riacho, condutora política do poder público no território, está atuando como indutora da adesão ao projeto e, pelo diálogo com os cidadãos, tem gerado o desejo de trazer uma árvore de volta ao seu passeio.

O Riacho Verde insere-se em um projeto amplo intitulado Verdejar, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, que tem sido bem recebido pela população, integrante de seus mutirões. No mutirão realizado na Rua São Lourenço, no Bairro Novo Riacho em Contagem, o senhor Domingos Sávio Campos, banhou seus olhos de lágrimas ao colocar a árvore no Berço juntamente com sua companheira. Lágrimas que na essência irrigariam a esperança de um futuro melhor, de uma cidade com maior equilíbrio ambiental e participação social efetiva.

Os fundamentos e estratégias do projeto se expressam de forma qualitativa com princípios e orientações retirados de pesquisas e análises realizadas pelo trabalho árduo de Millena Rates e Lorena Nascimento, duas servidoras da regional que abraçaram e desenvolveram o projeto; do conteúdo do curso de especialização em Meio Ambiente e Sustentabilidade; e também da realidade objetiva do chão social dos moradores da Regional Riacho, com acento na análise da relação homem – natureza.

Inicialmente a equipe foi a campo para realizar um levantamento de dados quantitativo no que se refere ao número de árvores suprimidas, procedimento necessário para fundamentar as diretrizes e os objetivos do projeto, que resultou numa cartilha, indicando as espécies e seus tamanhos e a ocupação em seu processo de desenvolvimento até alcançar a vida adulta. Indicando também todos os procedimentos para o plantio e os cuidados a serem tomados para o desenvolvimento.

Em um segundo momento foi feita a abordagem aos moradores para apresentação da cartilha e o preenchimento do formulário de autorização. Neste momento o cidadão conhece o projeto de evolução de sua árvore e por ele vai fincando-se a parceria e o despertar da consciência para os problemas ambientais, assim como o significado da contribuição de cada um na edificação de uma cidade com melhor qualidade de vida.

O plantio tem envolvido a comunidade e os órgãos da Prefeitura: equipe da Regional Riacho, Secretaria de Meio Ambiente, Subsecretaria de Limpeza Urbana, membros do Conselho de Participação Popular da Regional, alunos de escolas da região, do Instituto Estadual de Floresta (com uma APA no Território). Esse plantio em forma de mutirão traz à materialidade o sentimento de olhar para o futuro. Chamou a atenção de todos o garotinho Matheus de quatro anos que disse que iria plantar uma árvore pra ele e quando a muda foi colocada no berço, fechou os olhos, pôs as mãos sobre os mesmos e disse fazer um pedido, não se sabe pra onde a mente do pequeno viajou, mas certamente pra sublimidade da pureza que move os pensamentos das crianças, assombreados pela copa dessas árvores no futuro.

José Rodrigues é graduado em filosofia, sociologia e história e pós graduado em Segurança Pública e Direitos Humanos,Psicologia do Esporte e Meio Ambiente e Sustentabilidade

Laura Adler é jornalista

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