Se a eleição municipal prevista para outubro fosse hoje, Marília Campos, nossa prefeita, seria reeleita já no primeiro turno com 59,4% do total de votos. Para vencer no primeiro turno bastam 50% +1. Se considerados apenas os votos válidos, ou seja, excluindo-se brancos e nulos, a vantagem dela seria ainda maior: 74,6%. É isso que afirma uma pesquisa do instituto DataTempo divulgada esta semana.
Entre as possíveis candidaturas de oposição, o deputado federal Cabo Junio Amaral (PL-MG), teve 10,1% das menções; Felipe Saliba (PRD-MG), 9,1% e o Professor Gustavo Olímpio (PSTU), 1%. Brancos e nulos somam 11,7%, e aqueles que não sabem ou não responderam são 8,7%. Quando se considera apenas os votos válidos, Cabo Junio tem 12,7%, Saliba, 11,4%, e o professor Olímpio, 1,3%.
Resposta espontânea — Os números anteriores referem-se às respostas estimuladas, ou seja, aquelas em que é apresentado ao respondente um cartão com os nomes dos candidatos. Todavia, o DataTempo também fez a chamada sondagem espontânea, na qual o entrevistado não tem ajuda e deve recorrer à memória para lembrar o nome do candidato de sua preferência. Esse tipo de pesquisa é de máxima importância pois revela o quanto os nomes disponíveis estão “na cabeça” do eleitor. Neste caso, 56,1% ainda não sabem em quem votarão ou preferiram não responder à pergunta. Marília Campos permanece na liderança com 32,2% das menções. Felipe Saliba tem 1,6% e Cabo Junio Amaral, 1,3%. Gustavo Olímpio não foi lembrado. Outros nomes somam 1,9% das intenções.
Segundo turno — Embora os resultados da pesquisa não apontem para um segundo turno, ainda assim o DataTempo projetou como seria uma segunda rodada poderia ser em dois cenários. Em ambas, Marília vence. Contra Cabo Junio, a disputa ficaria em 64,2% a 22,8%, sendo que 4,5% não souberam ou não quiseram responder e 8,5% votariam nulo ou branco. Contra Saliba, o resultado seria 63,6% a 20,9%, com 10,2% de votos brancos ou nulos. Neste cenário, 5,3% não responderam.
Potencial de votos e rejeição — Um dado valioso desta pesquisa se refere ao “potencial de votos” de cada candidato expresso em três métricas: os que votam com certeza, os que poderiam votar e os que não votam de jeito nenhum ou, simplesmente, rejeitam a candidatura. Neste caso, Marília, mais uma vez, aparece numa posição bastante confortável, com um potencial de votos que chega a 71,7% (soma entre aqueles que afirmam que votariam com certeza e aqueles que poderiam votar), com uma rejeição de 19, 5% e 25% nas duas declarações “não votam de jeito nenhum”[1]. Os números da rejeição são muito semelhantes aos dos dois principais concorrentes. O potencial de voto de Cabo Junio chega a 26,9%, com uma rejeição que varia entre 16,3% e 22,3%, enquanto Felipe Saliba tem um mercado eleitoral que pode chegar a 23,4% contra uma rejeição que vai de 13,2% a 22,2 %, conforme a pergunta. De acordo com a pesquisa, 19,8% da população de Contagem afirma não rejeitar ninguém e 6% rejeita todos. Um segmento de 12,8% não respondeu à pergunta.
Finalmente, de acordo com o jornal O Tempo, “Os pesquisadores estratificaram o levantamento por gênero, idade, escolaridade, regional administrativa e renda. Em todos os cenários Marília lidera. Ela é mais popular entre as mulheres (60,4%), aqueles com mais de 60 anos (67%), os mais pobres (65,1%), aqueles com ensino superior incompleto ou completo (63,4%), e os moradores de Vargem das Flores (72,4%)”.
Os números são muito eloquentes. Marília está muito forte e enfrenta uma oposição extremamente fraca. É interessante observar, nesse sentido, que a intenção de voto na prefeita (74,6% dos válidos), é maior que seu mercado eleitoral cujo teto seria, se acordo com a pesquisa, de 71,7% do eleitorado. Há ai uma diferença de 2,9 pontos percentuais que, em algum momento, conseguiremos explicar.
José Prata, meu amigo de velha data e parceiro na produção deste Blog, me encaminhou algumas observações sobre a situação eleitoral no município que vale a pena compartilhar. Segundo ele, em setembro do ano passado, o mesmo DataTempo, fez uma pesquisa de intenção de voto com nomes que não são candidatos atualmente, tais como Ademir Lucas, Carlin Moura, Leo Mota, Alex de Freitas e Marcio Bernardino, além da própria Marília, Felipe Saliba e Junio Amaral. Nessa pesquisa, Marília liderava com 51,9% das intenções de voto. Ou seja, de lá para cá, as declarações de voto na prefeita cresceram 7,5 pontos percentuais (51,9% para 59,4%)! No quesito possibilidade de votar, Marília alcançava 72,1% das menções, contra os atuais 71,7%, num leve recuo. A rejeição da prefeita (não votaria de jeito nenhum), caiu 5 pontos percentuais, de 24,9% para 19,5%.
Ainda naquele levantamento, informa Prata, um segundo cenário mostrava Marília com 64,1% dos votos totais e 79,62% dos votos válidos na disputa com Saliba e Cabo Junio, num desenho muito próximo ao atual. A pesquisa de agora acrescentou o professor Gustavo Olímpio e deu a Marília 59,4% dos votos totais e 74,6% dos votos válidos.
Ao mesmo tempo, escreve Prata, “Os dois candidatos da extrema direita nas duas pesquisas avançaram muito pouco, de 16,5% para 19,2% dentro da margem de erro, com uma diferença que poderá ter consequências na campanha, que é Júnio Amaral à frente de Felipe Saliba. Já intenção de voto espontânea, Marília passou de 33% no ano passado para 32,2% agora; já os dois candidatos da extrema direita, juntos, somavam 0,8% e agora somam 2,9%”. Ou seja, de lá para cá as duas principais candidaturas de oposição tiveram um crescimento menos que modesto na memória do eleitor.
Desta forma, e ante a realidade incontornável dos números, a questão que fica é relativa às possibilidades de alguma mudança significativa no quadro atual até as eleições, em outubro, em desfavor de nosso campo. A vida dirá. Com o andamento da disputa eleitoral, há que se esperar algum recuo da intenção de voto em Marília. Os números apontam para o crescimento de Junio Amaral, que deve se consolidar como candidato preferencial da extrema direita na cidade. Já Filipe Saliba, sem mandato desde o último dia 12 de abril, tende a enfrentar grandes dificuldades materias e políticas para sustentar sua campanha e pode se retirar da disputa, viabilizando a unificação da ultradireita. Todavia, nada indica que a oposição vá crescer de forma ameaçadora pois lhes falta o fundamental: um discurso alinhado com a percepção que a maioria da população tem sobre a situação da cidade.
De fato, já há meses, a oposição tem se esforçado para criar a sensação de que o município está entregue às traças e, com isso, mobilizar o sentimento antipetista que segue forte aqui e em todo o pais, na onda da radicalização da polarização política que temos assistido desde a última eleição presidencial. Para tanto, a oposição se aproveita de cada dificuldade e percalço do governo, num denuncismo incansável que inclui mentiras deslavadas, como no caso das larvas, e que sempre associa os supostos mal feitos ao governo da “Marília do PT”.
Os desafios da oposição
Essa estratégia enfrenta duas dificuldades.
A primeira é a percepção da população acerca das entregas feitas pelo governo, que são muitas. Tivemos um início de ano difícil, com chuvas intensas e continuadas que provocaram enchentes, assustaram a população e levaram à desaceleração e até à paralisação de algumas obras. Os serviços de saúde ficaram pressionados pela epidemia de arboviroses. A campanha salarial dos servidores, especialmente da educação, também repercutiu mal na comunidade escolar devido à interrupção das aulas, ainda que de forma parcial e breve.
Soubemos dar respostas assertivas e eficientes a todas as adversidades e, como resultado, apesar de tudo, a avaliação positiva do governo Marília Campos ficou em 68,6%, com um “Muito bom/bom” de 48,8%. Este resultado representa um recuo de 5,2 pontos percentuais em relação à pesquisa anterior, do mesmo instituto, realizada em setembro do ano passado, quando a aprovação da prefeita chegou a 73,8%.
Por outro lado (e isto é de suma importância) este recuo não implicou numa piora de nossa avaliação negativa, que permaneceu estável, variando de 15,5% no ano passado para 15,4% agora. O que houve foi um deslocamento do “Muito bom/bom” de 59,4% para 48,8%, enquanto o “Regular” subiu 10,6 pontos percentuais, indo de 25,2% para 35,8%. Ou seja, se somarmos “Muito bom/bom” com “Regular”, teremos uma predisposição favorável ao governo na casa dos 84%! Observe-se ainda que o percentual de 48,8%. no segmento “Muito bom/bom” está bem acima do que é considerado ideal para um governo que almeja a reeleição.
No resumo, para uma parcela dos moradores, o governo pode não ser ótimo, mas é bom o bastante. A população percebe que a administração municipal está trabalhando e dando as respostas necessárias às dificuldades que aparecem. Nesse sentido, é digno de nota a melhoria em 9,2 pontos percentuais na avaliação positiva da Saúde, considerada o principal problema da cidade, com 43,2% das citações na pesquisa.
Por tais razões, o discurso catastrofista só encontra eco entre a minoria de opositores empedernidos para os quais nada que o governo fizer será bom. Uma evidência deste fato é que, mesmo entre os eleitores de Bolsonaro, a maioria (37,4%) declara voto em Marília, contra 21,2% que declaram voto em Junio Amaral e 16,9% em Felipe Saliba. Entre os contagenses que votaram em Lula na eleição passada, a atual prefeita nada de braçada: ela tem a preferência de 84% dos respondentes.
A segunda dificuldade enfrentada pela oposição para a viabilizar sua estratégia diz respeito à motivação de voto do eleitor. Ao tentar mobilizar a animosidade antipetista como principal fator de influência sobre o voto, a oposição aposta na polarização política entre bolsononarismo e lulismo, como o PL vem fazendo e, infelizmente, o PT também. Ora, em primeiro lugar, pelo menos em Contagem, o cenário de polarização é ruim para os candidatos já que, aqui, nem Lula nem Bolsonaro são bons cabos eleitorais. O DataTempo indica que o apoio de Lula motiva 24,4% dos entrevistados a votarem em Marília. Em contrapartida, 35,1% deixariam de apoiá-la caso fosse recomedada pelo atual presidente. No caso de Jair Bolsonaro, 28% dos entrevistados declaram que votariam no candidato apoiado por ele – mas, 33,8% afirmam que deixariam de votar num candidato que o ex-presidente indicasse. Este é um dos problemas de todo e qualquer processo de radicalização de opiniões, já que leva a uma forte delimitação e redução da porosidade entre as fronteiras dos pólos opostos. A redução do potencial de transferência de votos é uma das consequências desses processos na política eleitoral.
Além disso, o alinhamento dos candidatos aos campos da disputa política nacional não é o que mais o que motiva a maioria dos eleitores na hora de escolher o próximo prefeito ou prefeita de sua cidade. As questões locais motivam muito mais. O DataTempo perguntou ao eleitor de Contagem o que ele mais leva em consideração na hora de definir o voto para prefeito. Quesitos como partido e aliados políticos aparecem no fim da fila das prioridades com, respectivamente, 2,3% e 1,7% das respostas.
As características mais valorizadas são: honestidade (40,4%), propostas para a cidade (29,0%) e trajetória política/experiência política (11,7%). Também são mencionadas a atenção com o eleitor (7,0%), ser uma pessoa de fora da política (2,0%) e ser do meio empresarial (1,3%). Ou seja, mais de 40% das menções de refere à vivência do local (propostas para a cidade e histórico do candidato). Já o item honestidade reflete o peso que o debate sobre a corrupção alcançou no país nos últimos anos.
Em suma, o eleitor está mais preocupado com a efetividade das políticas públicas no seu dia a dia que com os eventuais alinhamentos ideológicos ou afetivos dos candidatos. Acerta, portanto, a prefeita Marília Campos ao investir pesadamente na eficiência da gestão e, por outro lado, ao “despolarizar” a política local fazendo um governo amplo e disposto a dialogar com quem se dispuser a contribuir com o desenvolvimento da cidade.
Por conclusão, seja porque não conseguem convencer a população que a cidade está abandonada e mergulhada no caos, seja porque a gestão plural de Marília não deixa espaço para que a polarização prospere, o fato é que a oposição, no momento, enfrenta enormes dificuldades para se constitui como uma alternativa eleitoral com chances reais. Nesse quadro, a vitória de Marília já no primeiro turno desponta como uma forte possibilidade.
Para tanto, o maior desafio está em melhorar a avaliação da gestão que registra uma taxa de aprovação bem inferior à intenção de voto na prefeita: 74,6% dos válidos a 68,6% de avaliação positiva. A gestão não pode ser um peso, puxando Marília para trás.
Esse esforço deve ter como meta, em primeiro lugar, recuperar os pontos perdidos no “Muito bom/bom” para o “Regular”, como registrado acima, e, em segundo lugar, trazer a boa avaliação geral para perto dos índices que ostentávamos ano passado, quando a aprovação da prefeita chegou a 73,8%. Manter a aprovação acima dos 70% será suficiente.
Neste sentido, seria bom redobrar as atenções nas áreas indicadas pela pesquisa como os maiores problemas da cidade aos olhos da população: a) saúde (43,2%) b) trânsito e transporte (13,2%), c) obras (12,2%) – que piorou a avaliação em 5 pontos percentuais em relação ao levantamento anterior; d) segurança pública (7,6%) e educação (5,6%).
Ivanir Corgosinho é sociólogo
NOTAS
[1]A pesquisa faz a mesma pergunta duas vezes, com formulações ligeiramente diferentes e obtem dois resultados distintos. A primeira pergunta é: “Se a eleição para PREFEITO de Contagem fosse hoje e os candidatos fossem estes, em quem o(a) senhor(a) NÃO VOTARIA DE JEITO NENHUM?”. Em seguida é apresentada a relação dos candidatos. A segunda pergunta é: “Sobre a possibilidade de votar em ________ para PREFEITO de Contagem, o(a) senhor(a):” com as alternativas “Votaria com certeza”, “Poderia votar” “Não votaria de jeito nenhum”, “Não conhece o suficiente para opinar” “Não Sabe/Não Respondeu”. Na primeira pergunta Marília recebeu de 19, 5% das respostas e 25% na segunda.