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Ivanir Corgosinho: A importância estratégica da reeleição de Marília

A reeleição da prefeita Marília Campos, objetivo já claro e consensuado entre a maioria das forças políticas atuantes no município, tem importância estratégica em dois sentidos independentes e complementares.

O primeiro é permitir que a prefeitura continue a ser gerida por um projeto de governo bem avaliado pela população devido a seu compromisso evidente com as aspirações populares em termos de prestação de serviços, assistência, investimentos e abertura de espaços para a verbalização de demandas, etc. A boa aprovação de Marília nas pesquisas já divulgadas, em torno de 80% dos entrevistados, expressa a forte sintonia entre o que o governo faz e aquilo que a população espera que ele faça. Se as pesquisas também mostram que Marília é considerada a melhor prefeita da cidade nas últimas décadas, é devido a seu firme compromisso em manter essa sintonia, colocando os interesses da comunidade acima de quaisquer outras conveniências, ainda que isso lhe custe desgastes pessoais. Por exemplo, dentre outros, vimos como a polêmica sobre a distribuição do ICMS da Educação e sobre a adesão de Minas ao Regime de Recuperação Fiscal, estremeceram as relações entre a prefeita e seu partido, o PT no estado.

Essa sintonia entre as aspirações populares e as realizações do governante é fundamental para uma construção política de longo prazo e proporciona um dos pilares para a formação das culturas políticas. Nesse caso, o que estamos alimentando é o campo interpretativo da realidade que valoriza os bens públicos e o papel do Estado como ente coordenador da vida social e indutor de desenvolvimento para o bem comum.

Toda iniciativa com vistas a fomentar essa cultura não é apenas bem vinda, como se torna essencial na luta contra-hegemonica frente ao “fundamentalismo de mercado”, essa especie de nova fase do capitalismo.

A ideologia do “fundamentalismo de mercado” vem sendo promovida pelos super ricos de hoje com o mesmo entusiasmo que a velha aristocracia promovia o velho “direito divino dos reis”, como sugere Robert Reich em artigo no blog A terra é redonda. [1]

No resumo, trata-se de um retorno radical à metáfora da “mão invisível” do mercado, base do liberalismo classico e da recusa dos neoliberais a qualquer papel coordenador e orientados do Estado nos assuntos economicos. De acordo com as explicações dos fundamentalistas de mercado, ou dos anarcocapitalistas como Javie Milei, é necessária a abolição total do Estado dentro do sistema capitalistan e a privatização total das relações econômicas, inclusive dos os serviços básicos, como educação, saúde e segurança. Em contrapartida, dizem, teriamos um regime de liberdade individual absoluta apenas limitada pelas interações voluntárias e desimpedidas entre agentes privados.

A vida tem demonstrado, sobejamento, que empreendedorismo individual sem regras e sistemas de isonomização dos agentes leva à concorrência predatória, à concentração de renda e à produção e reprodução de desigualdades de renda, de riqueza e de poder político. Quanto aos serviços como educação e saúde, é notório que se deixados por conta do mercado, serão oferecidos apenas a quem pode pagar.

O projeto de reeleição de Marília, portanto, além de sua importância meramente local, tem valor estratégico para toda a esquerda brasileira e, quiçá, mundial. Ele integra o esforço de resistência contra-hegemonica na luta mais geral contra a extrema-direita que, como mostram a eleição de Javier Milei e o desmpenho de Donald Trump nas prévias do Partido Republicano nos EUA, se mantem forte e capaz de aproveitar oportunidades.

Reeleger Marília significa não apenas dar continuidade a um projeto vitorioso, que merece e que precisa continuar. Significa também manter ativo um campo de experimentação política capaz de oferecer solulões eficazes para as críticas desferidas contra a democracia mundialmente. O governo Marília demonstra que é possível confrontar a Nova Direita de modo prático via a adoção de políticas governamentais que recuperem a credibilidade dos governos democráticos e a esperança numa “promessa de emancipação” vinda da esquerda.

Ivanir Corgosinho é sociológo.

[1] Reich, Robert. O fundamentalismo de mercado. A terra é redonda. Disponível em https://aterraeredonda.com.br/o-fundamentalismo-de-mercado/

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