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Hamilton Reis: O que Fagner veio fazer em Contagem?

Nossa cidade tem se afirmado como um lugar onde se respeita o diverso e onde se cultua a pluralidade. É coisa bonita de se ver, o esforço cotidiano de implantação e incremento de políticas públicas que dialogam com todos os segmentos. Aqui tem espaço para todas as manifestações. A Marcha para Jesus, que atrai os evangélicos, acontece este ano em junho. Em agosto, é a vez de gays, lésbicas, travestis, transexuais e afins realizarem a Parada LGBTQI+. O público escolhe em qual desses eventos quer ir. Ou vai aos dois, porque religião e opção sexual competem, unicamente, a cada um e a cada uma escolher a sua.

Democráticos também são os espaços públicos, onde se pratica arte, esporte e lazer. Praças reformadas ou sendo construídas para acolher as famílias, parques revigorados e com extensa programação cultural e ginásios abertos para a prática de esportes, são frequentados pelo povo. Indiferente a eventuais peças de mau gosto que, estampadas de forma irregular em outdoors, falam de caos em meio a um lugar onde o poder público trabalha e apresenta resultados positivos para os seus cidadãos e cidadãs.

Não é preciso propagandear. A percepção das pessoas de que as melhorias existem e são reais superam o fazer publicitário. O contagense é feliz com a sua prefeita. Marília Campos vive dias de gloriosa popularidade. É recebida com carinho em qualquer canto, e a cada aparição sua imagem se multiplica, registrada pelos celulares e postada centenas de vezes, o que a aproxima ainda mais da população. Não por acaso, sua aprovação segue elevada e ela segue fazendo o que sempre fez, indo onde o povo está. Em um tempo em que prefeitos precisam se esconder em seus gabinetes, a sua caminhada chama a atenção do mundo político e holofotes se voltam para a sua gestão bem sucedida. Mais gente passa a imaginar e a desejar que ela possa um dia, quem sabe, alçar voos maiores.

Mas, claro Alice, não vivemos no país das maravilhas. Um município do tamanho do nosso impõem desafios gigantes. Não somos uma ilha de prosperidade isolada no oceano. Estamos sujeitos ao impacto da política econômica e somos afetados igualmente pelas movimentações de um mundo globalizado. Uma lei estadual, por exemplo, como a de redistribuição do ICMS da Educação, é capaz de, com uma canetada só, surrupiar milhões da nossa receita. Uma causa que, se espera, sensibilize a esfera federal, que pode decidir pela reversão do dano que prejudica a maioria dos estudantes mineiros.

O governo local é o primeiro a apontar as demandas pendentes e dar respostas a elas. E escolher quais são as prioridades, porque obviamente não se faz tudo ao mesmo tempo. A oposição investe na falta e ignora o que foi feito. Já os moradores e moradoras, que conhecem de perto o dia a dia de suas carências, apostam que quem já fez muito, pode fazer mais. Criam a expectativa de serem atendidos naquilo que pode fazer a vida deles ter melhoria e qualidade. É a esperança que se sobrepõe ao discurso fácil daqueles que apenas atacam. E que, desnorteados, assistem ao próprio descrédito. Por isso, sempre que podem, mentem. Mentem à exaustão, até acreditarem que vão colher frutos de suas mentiras.

Quando o cearense Raimundo Fagner veio se apresentar no Espaço Popular trouxe na bagagem seus anos de vivência e a fama de quem já correu mundo com a sua arte. Desembarcou em uma cidade plural e foi recebido por centenas de fãs de todas as idades. Homens, mulheres, crianças, jovens, idosos, negros, brancos. Rostos diversos, emocionados, vibrantes, viajando da forma mágica que a música proporciona. A noite foi de deleite. Memorável. Valeu cada centavo investido pela Prefeitura na contratação do cantor e na divulgação de sua vinda. Mais um sucesso de público.

Mas o show poderia não ter acontecido. Para alguns, uma administração de esquerda não deveria ter presenteado as mães com a presença de um bolsonarista, mesmo que arrependido. O mesmo critério deveria ter sido aplicado quando da vinda de Elba Ramalho, contestada por semelhante motivo. Já no caso de Chico César, militante das causas progressistas e apoiador de Lula, a grita foi pelo inverso. Estava se utilizando dinheiro público para beneficiar um artista petista.

Fagner não veio fazer discurso político e nem expor suas ideias e sua ideologia. Não foi convidado a apoiar governos ou a critica-los. Sua escolha se deu em razão da data disponível em sua agenda e do seu reconhecido talento. O que Fagner veio fazer em Contagem foi cantar. O que ele fez e muito bem. O resto é conversa de botequim.

Hamilton Reis é jornalista e advogado.

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