Prefeito de Belo Horizonte tem 75 anos e é economista
Valor Econômico, 10/02/2022
A corrida pela Prefeitura de Belo Horizonte em 2024 já teve início. Entre os nomes ventilados no meio político para concorrer ao cargo estão o presidente da Câmara dos Vereadores de Belo Horizonte, Gabriel Azevedo (sem partido), o deputado estadual Bruno Engler (PL), o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) e o atual prefeito, Fuad Noman (PSD). Para tentar se reeleger, o sucessor do ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD) tem à frente o desafio de se tornar uma figura conhecida pelos eleitores – algo que seus possíveis concorrentes já conseguiram na capital mineira.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Opus mostrou que 87,5% dos moradores de Belo Horizonte não sabem quem é o prefeito da cidade ou erraram o seu nome. Foram ouvidos 400 moradores da capital mineira. A margem de erro é de cinco pontos percentuais.
“Não me preocupo com isso não. Eu não fui eleito prefeito, quem foi eleito foi o Kalil, que era conhecido. Eu era um desconhecido para a maioria da população. Hoje eu vejo que já tem um nível de conhecimento maior”, afirmou Noman. O pessedista era vice-prefeito de Kalil e, em março de 2022, assumiu o cargo de prefeito após Kalil renunciar para se candidatar ao governo do Estado.
Com ar bonachão e fala suave, Noman contrasta com a figura enérgica de Kalil. O atual prefeito também demonstra mais habilidade para dialogar com a Câmara Municipal e com o governador Romeu Zema (Novo), que venceu Kalil na eleição passada.
“O presidente da Câmara tem as mesmas ideias que as nossas. Temos uma boa relação, está funcionando bem”, afirmou Noman. O prefeito defendeu Kalil, dizendo que a dificuldade de diálogo com a Câmara devia-se a disputa eleitoral. “O Kalil tem aquele jeito dele bem autêntico. Ele fala umas coisas e às vezes ofende as pessoas. Mas aquilo [as brigas com a Câmara] é passado”, emendou Noman.
A melhora no diálogo com Zema permitiu a Noman fechar dois convênios com o Estado, com investimento total de R$ 444,5 milhões. Um convênio para a construção de três barragens no córrego Ferrugem para por fim aos alagamentos na avenida Tereza Cristina. Outro convênio – entre as prefeituras de Belo Horizonte e Contagem e a Copasa – é para a despoluição da Lagoa da Pampulha, com a interceptação do despejo de esgoto não tratado na lagoa. Uma das queixas de Kalil na antiga gestão era a falta de recursos vindos do governo do Estado e da União.
Em relação à União, Noman disse que o governo passado, do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), não olhava para Belo Horizonte. Bolsonaro criticou muitas vezes a gestão de Kalil para combater a pandemia de covid-19. Ele foi o primeiro prefeito a decretar o fechamento do comércio para tentar reduzir o avanço da contaminação na cidade. Agora, na gestão Lula (PT) tem a mesma coligação de partidos do prefeito Noman, o que também favorece o diálogo.
“Estamos tendo uma receptividade muito melhor em Brasília”, disse Noman. Nessa semana, ele esteve em Brasília para discutir com o governo federal sobre a proposta de reforma da previdência, o fechamento do aeroporto do Carlos Prates, a destinação de imóveis desocupados da União no centro de Belo Horizonte, como parte de um projeto de revitalização da região. “Pedi que o governo federal faça um retrofit nesses prédios ou repasse para a prefeitura. Estamos aguardando a decisão que vão tomar”, disse Noman.
O pessedista afirmou que quer deixar um legado de obras em sua gestão. “Se essa boa gestão gerar uma boa avaliação, eu queria ter o direito de escolher no ano que vem se quero continuar ou não”, afirmou Noman. “Eu não estou fazendo nenhuma grande campanha para ser conhecido. Acho que o que precisa ser ressaltado são os serviços”, acrescentou. A lista de obras que pretende concluir até 2024 é extensa. Inclui a conclusão das obras para evitar enchentes no bairro Vilarinho, obras para conter 200 encostas com risco de desabamento, construção de três viadutos e do corredor do Move na avenida Amazonas, iniciar a construção de 3 mil novas casas populares, entre outros projetos.
Hoje com 75 anos, Noman é formado em Ciências Econômicas. Trabalhou no Tesouro Nacional, foi secretário-executivo da Casa Civil da Presidência da República, diretor do Banco do Brasil e presidente da BrasilPrev. Foi consultor do Fundo Monetário Internacional para o governo de Cabo Verde. Em Minas, foi secretário da Fazenda, secretário de Transporte e Obras Públicas, secretário Extraordinário da Copa do Mundo, presidente da Gasmig e secretário de Estado Extraordinário para a Coordenação de Investimentos. Na prefeitura da capital, foi secretário de Fazenda de 2017 a 2020.
“Fuad chega à prefeitura sem identidade com o eleitor, mas com o perfil que a cidade gosta: a ideia da gestão. E, ao contrário de Kalil, Fuad tem uma habilidade de relacionamento que fazia falta na cidade”, avaliou Malco Camargos, cientista político, professor da PUC Minas e diretor do Instituto Ver. “Porém, ele precisa ser reconhecido pela cidade. Esse é o trabalho que ele terá que fazer para ser um candidato viável na disputa pela prefeitura da capital”, disse.