topo_M_Jose_prata_Ivanir_Alves_Corgozinho_n

SEÇÕES

Augusto Nascimento: Como Marília Campos venceu a polarização em Contagem?

Polarização. Tão presente nos estudos de ciência política quanto nas conversas cotidianas e contemporâneas dos brasileiros, essa palavra polissílaba ganhou um destaque especial no cenário pós-eleitoral de 2018. Apesar de verbalizada com mais frequência no contexto da disputa presidencial entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), a polarização política no Brasil não é um fenômeno novo se levarmos em conta que por vinte anos (1994 – 2014) os brasileiros se dividiram entre dois partidos (PT e PSDB) para escolher o chefe do executivo federal.

Todavia, com a vitória de Jair Bolsonaro nas urnas, muito se questionou sobre qual seria o rumo das eleições municipais de 2020. Sem surpresas, apesar do declínio significativo, o MDB continuou no topo do ranking, conseguindo mais de 700 prefeituras. O PSL de Bolsonaro venceu ao conseguir 60 novos municípios, saltando de 30 para 90 prefeituras em todo o país. No caso do PT, a queda. O partido perdeu o comando de 71 municípios, caindo de 254 para 183.

Apesar da baixa no número de prefeitos eleitos, o PT conseguiu um resultado positivo em cidades com número superior a 200 mil habitantes. Entre 2021 e 2024, a sigla governou 7 grandes municípios, incluindo Contagem, cidade protagonista deste artigo.

Com cerca de 620 mil habitantes, Contagem é a maior cidade governada pelo PT no âmbito nacional, o que faz da prefeita Marília Campos um ponto fora da curva na polarização eleitoral brasileira. Além de ter sido a primeira candidata do Partido dos Trabalhadores a vencer as eleições para o executivo de Contagem, ela também foi a primeira a ser reeleita no município (2005 – 2012). Dessa forma, entender a relação de Marília com a cidade é de fundamental importância para compreender como, no cenário eleitoral de polarização ideológica em que Contagem entregou 65% de seus votos para Jair Bolsonaro em 2018, ela conseguiu ser a preferida dos cidadãos contagenses pela terceira vez, ganhando, assim, mais um mandato (2021 – 2024) à frente do executivo municipal de uma das maiores cidades mineiras.

É então que voltamos à pergunta título deste texto: como Marília Campos conseguiu vencer a polarização em Contagem? Para 2020 a resposta é simples: Marília foi recompensada pela excelência de seu trabalho nos dois primeiros mandatos. Por outro lado, para a possível reeleição em 2024, há mais para se considerar.

Contagense, o cientista político e professor Felipe Nunes destaca que a polarização ideológica ainda estará presente nas eleições municipais de 2024. Ele prevê que a agenda de valores será central na pauta da direita, o que obrigará a esquerda a se posicionar para tentar ganhar novas prefeituras.

A cientista política norte-americana Jennifer McCoy disse que “quando a divisão se entrincheira na sociedade, é muito difícil superá-la. É necessário então haver lideranças capazes de construir pontes, o que exige bastante coragem”. Exigir coragem e diálogo pode ser algo demais para alguns políticos, mas não para Marília Campos. Na verdade, essas são grandes características da trajetória política da prefeita.

Pesquisas preliminares apontam que Marília Campos sustenta uma ampla vantagem na intenção de votos para as eleições deste ano. No levantamento realizado pelo Instituto Realtime Big Data (novembro/2023), 50% dos entrevistados dizem que votariam na prefeita, enquanto apenas 10% votariam no segundo possível candidato mais bem colocado. No quesito aprovação da gestão, Marília também é surpreendente. O DATATEMPO (outubro/2023) mostrou que 73% dos entrevistados aprovam a atual gestão de Contagem.

Se a polarização é um substantivo que carrega o adjetivo “ideológica” a tiracolo, a gramática de Marília é diferenciada. Sempre trabalhando com o bem-estar de Contagem como prioridade acima de diferenças partidárias e ideológicas, a prefeita buscou, com êxito, manter uma relação saudável e cordial com a Câmara Municipal e com o Governo do Estado.

Firme no compromisso de governar para todos, Marília não sucumbiu a premissa do “nós” versus “eles”. Ao longo dos três primeiros anos de governo, diversas foram as medidas adotadas que asseguram o trato da prefeita com a população de Contagem como um todo. Exemplo claro é a relação que a chefe do executivo municipal mantém com as regionais da cidade. No pleito de 2020, a Vargem das Flores foi a regional que mais direcionou votos para Marília Campos, enquanto a Ressaca foi a regional que menos votou por uma terceira gestão. As duas regionais, de igual forma, receberam incentivos e novas instalações do centro esportivo e cultural CEU das Artes, por exemplo.

Ainda no contexto cultural, todas as regionais da cidade tiveram projetos contemplados nos editais de fomento e incentivo, em um aceno justo à integração total do município junto às políticas públicas.

Se a pauta de valores promete ser uma agenda da direita, nem de longe preocupa ou incrimina a gestão Marília. A política de shows gratuitos, medida esta aprovada por 65% da sociedade (Datatempo), trouxe para as praças públicas de Contagem diversos shows como o do Padre Fábio de Melo e da cantora gospel Aline Barros, iniciativa claramente em harmonia com a agenda de valores.

Se, por um lado, Marília dialoga com a parcela conservadora da sociedade, os progressistas jamais seriam esquecidos. A inclusão também é uma marca do governo da prefeita, que apoiou eventos como a Parada LGBTQIAP+ e promoveu o “Dia da Empregabilidade”, ação em alusão ao dia da pessoa com deficiência que proporcionou o encontro de empresas e pessoas com deficiência em busca de uma colocação no mercado de trabalho.

O reconhecimento da atuação dos servidores públicos do município também é uma pauta cara para a gestão Marília Campos. Nos últimos anos, a Prefeitura de Contagem investiu em políticas de valorização de seus servidores, como reajustes salariais, benefícios e gratificações. Os gastos com pessoal no ano de 2020 girou em torno de R$796 milhões, enquanto o valor subiu para R$1,027 bilhões em 2022.

Sendo assim, se o diagnóstico de 2020 mostrou que a população contagense não esqueceu do trabalho feito por Marília Campos nas duas primeiras gestões, mesmo quase uma década depois de deixar o cargo de prefeita, o caminho para 2024 parece pavimentado. Não existe polarização que se sustente diante de uma boa gestão.

É fato que Contagem orbitará no radar do PT como uma das principais cidades para as eleições municipais de 2024. Somente no ano passado, cinco ministros de estado visitaram a cidade em um claro aceno da importância do município para o Governo Federal. Vislumbrando 2026, o Partido dos Trabalhadores entende a relevância de Minas Gerais para continuar em Brasília. Com a baixa popularidade do então pré-candidato da sigla em Belo Horizonte, Contagem se torna um palanque necessário na Região Metropolitana. Dessa forma, para este ano, não será surpresa se outros integrantes do Palácio do Planalto reservarem um espaço na agenda para visitar Contagem, incluindo o próprio presidente Lula.

Augusto Nascimento é jornalista e mestrando em Ciência Política pela UFMG

Outras notícias