Eu me lembro como se fosse hoje da primeira entrevista que fiz com Marília Campos. O ano era 2008 e eu era repórter da Rádio Itatiaia. Fui escalado pela chefia do jornalismo da emissora para cobrir todo o segundo turno daquela eleição na cidade. Marília era a prefeita, tentava seu segundo mandato e disputava contra o rival histórico Ademir Lucas. Numa manhã ensolarada de outubro, dois dias após a primeira etapa da votação, Marília me recebeu com sorriso aberto em sua casa e gravamos por cerca de 15 minutos. Contagense que sou, eu já conhecia bem o trabalho da então prefeita e suas qualidades, mas nunca havia conversado com ela. A conversa pré-gravação e a entrevista em si foram inspiradoras. Marília mostrou capacidade de síntese, raciocínio rápido, bons argumentos e emoção na voz ao falar do que projetava para a cidade.
Desde essa primeira entrevista que ela me concedeu – e foram muitas enquanto passei por diversos veículos de imprensa –, passei a prestar a atenção em sua capacidade de comunicação. E político que quer ter sucesso precisa saber se comunicar. Precisa saber como criar um elo com o público. Marília tem essa capacidade: ela sabe moldar seu discurso ao ambiente em que está sem deixar de ser ela mesma. No começo de 2015, fui trabalhar com Marília como assessor de imprensa na Assembleia Legislativa. A boa relação “repórter-fonte” a fez me convidar para trabalhar com ela quando assumiu o segundo mandato de deputada estadual. Como assessor, eu acompanhava quase todas as suas agendas e ficava cada vez mais claro o quanto ela conseguia criar conexões com suas falas nos mais diversos ambientes por onde passávamos: desde reuniões com comunidades carentes até encontros com o governador do Estado e ministros.
Naqueles idos de 2015, as redes sociais começavam a despontar como figura importante de comunicação mais direta com o eleitorado. Rodrigo Paiva, coordenador de comunicação do gabinete, Ivanir Corgosinho, José Prata e eu criamos uma política de uso mais intensivo do Facebook, que era a grande rede do momento. Prata e Ivanir escreviam análises mais profundas, eu acompanhava a agenda e postava o factual do dia a dia da deputada e Paiva fazia a programação visual daquilo que hoje chamamos de cards. Deu certo e o Facebook de Marília bombou. Naquela época, os vídeos eram exceção. Não havia internet tão rápida como hoje, nem condições técnicas para postar o dia todo. Apostávamos em textos e fotos. Marília não gostava do texto relatorial, típicos do jornalismo. Ela pedia uma “pegada” de crônica, sobretudo nas agendas que envolviam gente. Era diferente de tudo o que outros deputados postavam na rede.
Confesso que demorei para entender o tom que ela queria. “Sambei” por um bom tempo até achar o jeito dela de falar e de escrever. Gravava os discursos nos eventos e usava algumas expressões dela, casadas com um ou outro detalhe que a gente captava no local. Fiquei feliz na primeira vez em que, dentro do carro, ela leu um texto meu no Facebook e disse que não dava para saber se tinha sido escrito por ela ou por mim, tamanha a similaridade das ideias. Ali eu finalmente captava a forma que Marília tem de falar. É tudo muito próprio, muito intuitivo, mas, ao mesmo tempo, com muitas técnicas que os consultores de comunicação ensinam por aí. A diferença é que ela nunca fez um curso – faz tudo pela capacidade que tem de observar e colocar essa sensibilidade da observação nas falas públicas.
Pulo para o atual mandato de prefeita. Na era da imagem em movimento no Instagram, Marília tomou conta das redes com um jeito que combina efetividade, afetividade, simpatia e sacadas interessantes para iniciar os vídeos. Quem a vê gravando nota uma incrível familiaridade com esse ambiente. Raramente ela erra – e quando erra até brinca com o momento – e já tem na cabeça aquilo o que quer falar, os cortes de imagens e o que ela quer comunicar. Com a experiência de quem já treinou políticos para falar melhor, posso dizer que poucos têm essa visão sistêmica dos processos que envolvem a comunicação. O resultado é um sucesso de views e um Instagram que virou uma espécie de veículo de comunicação da cidade.
No contato com o povo nas ruas, algo que Marília não abre mão de fazer, ela amplifica a fórmula dos vídeos. Observa detalhes do ambiente, pessoas-chave das agendas, gente com boas histórias e busca o significado real das intervenções da Prefeitura – muito para além dos números frios que eu tanto gosto (mal dos jornalistas). Ela consegue pegar tudo isso e enquadrar num discurso de cidade que conquistou e conquista a população de Contagem. Notem que Marília consegue falar da história das pessoas e aliá-las às políticas públicas que estão sendo desenvolvidas e casar tudo isso com o projeto de cidade que nós defendemos: uma Contagem para trabalhar, estudar, se divertir, viver… A cidade do encontro!
Somado a isso, tem o magnetismo pessoal da “chefa”, como costumo chamá-la. Ela não abraça as pessoas por abraçar. É o jeito dela de agir. Marília não sorri para as pessoas por sorrir. Ela é sorridente no dia a dia. Ela olha nos olhos do povo ao cumprir agendas nas ruas e nos espaços públicos da Prefeitura. Marília não tem medo da contestação e, por isso, não é raro vermos a prefeita dando uma incerta em UPAs ou UBSs da cidade. E a população vê verdade no que ela fala, mesmo quando ela precisa dizer um não. Afinal, o governo não pode tudo, não consegue fazer tudo. Marília é chamada pelo nome e não pelo cargo.
Esse combo de ações e atitudes faz dela uma comunicadora por essência. Os discursos de Marília estão cada dia mais incisivos, mas ao mesmo tempo carregados de sentimento. Ela vive seu melhor momento em sua comunicação pessoal. E até o presidente da República notou isso. Na visita que fez no fim de junho a Contagem, Lula derreteu-se: “Querida Marília, foi um prazer muito grande vir a Contagem outra vez e te achar mais bonitona, mais charmosa e muito mais preparada para conversar com esse povo. Porque o que você fez para esse povo hoje foi uma lição de vida e eu tenho certeza que o povo sabe a importância da Marília ser prefeita de Contagem”, afirmou, no palco, a maior autoridade do país.
Pouco antes, Marília havia roubado a cena em seu discurso. Para desespero do cerimonial da Presidência da República, que havia pedido uma fala de, no máximo, seis minutos, Marília falou o quanto quis. Foram mais de 20 minutos de uma fala recheada de assertividade, sensibilidade e capacidade política. Tanto foi que a mídia inteira – inclusive a nacional – repercutiu o discurso da prefeita. Marília falou com propriedade do momento de esperança que Contagem vive com a retomada não apenas do desenvolvimento, mas também da esperança e do orgulho que o contagense tem da própria cidade. Ela tirou o microfone do pedestal – coisa que nem os ministros de Lula fizeram – e percorreu o palco. Ora olhava para o presidente e seus ministros, ora encarava o público. Um sucesso!
E a cereja do bolo foi ouvir Marília falando a Lula sobre a dívida de Minas com a União. Ela fez o papel que o governador deveria ter feito, caso estivesse presente. Marília falou por 20 milhões de mineiros. Por mais que a maioria da população talvez não tenha ideia do tamanho do problema do Estado, ele reflete em tudo – em todas as políticas públicas. Marília fez cobranças certeiras a Lula, mas com um tom moderado, ameno e – eu diria – até bem humorado. Ouviu do presidente palavras elogiosas. Foi aplaudida de pé pelos presentes. Quando Marília fala, a gente precisa parar para ouvir.
Rodrigo Freitas é jornalista.