No meu primeiro escrito deste blog (Contagem fez-se cais de Porto Príncipe), realcei a presença dos haitianos, na Cidade das Abóboras, e deixei pelas encostas, como numa estratégia introdutória para projeções futuras, o loco pujante e visceral da Praça Tancredo Neves.
Num tom descritivo metafórico e literal, sublinhei as características do reduto público, ante minhas percepções, assimilações, e convicções, daquilo que se faz essencial nos instáveis desígnios da vida. Publica-se o transcrito do referido texto: A Praça Tancredo Neves tornou-se meu núcleo empírico. No cenário, o Palácio do Registro, dando o tom de suas formas. Idiomas e estilos, e cores de vestimenta, traçam os contornos da atmosfera. A língua francesa e o dialeto crioulo ressoam juntamente do mineirês e do idiossincrático arrulho e cântico dos pássaros. Uma torre de babel que só.
O apontado equipamento público transformou-se no meu logradouro afetivo de maior predileção. Quase no quintal de casa, por assim dizer. Com o busto do presidente eleito em 1985- e que por obra da natureza acabou-se sucumbindo antes da assunção do cargo-, indiretamente, mirando, com o perdão do trocadilho, diretamente aos contornos do palacete governamental, com os delineamentos da redemocratização e exercendo a vigília atenta e constante do exercício da democracia.
Se de tantas praças, em que pude absorver localmente a carga atmosférica, ornamentando as sedes governamentais que se fazem o pulsar da política e se fizeram as revoluções- Plaza de la Revolución, Plaza Independencia, Plaza de la Constitución, Plaza de Mayo-, a Praça Tancredo Neves, com seu magnetismo, traz-me, de volta, às raízes e aos anos e ares pueris da infância.
Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, reconheceu a beleza superior e imponente do Rio Tejo sobre o Rio de sua Aldeia. Mas o Rio Tejo nunca foi o Rio de sua Aldeia. Desta feita, sabiamente, elegeu o Rio de sua Aldeia como o mais belo.
É o mesmo sentimento que carrego sobre a Praça de minha rua. Praça esta que nem sempre esteve tão zelada em outros momentos sob a regência de outras gestões. Mas que nos tempos atuais, sob a intensa verve política de Marília Campos, se faz conservada e pronta para uma grande revitalização, conforme evidências das movimentações e preparativos.
Revitalização esta em que imaginei que poderia ser a última das praças antes do término do atual mandato. Se será, não tenho certeza. Preferi não buscar quaisquer informações a respeito. Mas tudo indica que sim. Se não, façamos de conta como se assim fosse.
Nada seria mais simbólico. A Praça que se assenta vis-à-vis com o emblemático Palácio do Registro. Numa aura em que se registra o exercício democrático e, certamente, os grandes feitos históricos da atual política do Arraial de São Gonçalo. É a Marília das praças, da saúde, da educação e de toda sorte de políticas públicas universais e progressistas. A verborragia e xucrice da oposição não romperá tamanha força com inserções pejorativas.
Desta vez, escrevo sob a inspiração de praias baianas e da frieza, embora com toda carga emocional e poética, de um observador distante, para uma análise mais detida e com o cuidado de não deixar as pontas soltas. Sempre agradecendo profundamente aos fundadores do blog, José Prata e Ivanir Corgosinho, pela abertura e total liberdade do que me toca escrever. E se o motivo de toda viagem é a volta, retornarei revigorado para continuar vivenciando o maior momento político da história de Contagem. Com uma grande inauguração da Praça Tancredo Neves e um apoteótico desfecho que o terceiro mandato merece.
Quem sabe os destinos políticos possam proporcionar um Natal de Luz reverberando um senso coletivo e iluminando as sendas humanistas. E, mais do que isso, celebrar- não sem antes de muita cautela, estratégia e trabalho árduo-, a continuidade, das realizações, escolhida única e exclusivamente pelo povo. Até à vitória, sempre!
Lucas Corrêa Fidelis é advogado e servidor público.