Tudo indica, teremos uma eleição de polarização simples aqui em Contagem este ano, com apenas duas candidaturas “pra valer” se confrontando em outubro: uma de situação e outra de oposição.
O quadro atual difere bastante do registrado na eleição municipal passada, quando tivemos uma forte dispersão das postulações como observou o José Prata, em texto recente: “Foram 15 candidaturas com os seguintes percentuais de voto no primeiro turno: Marília Campos (41,83%), Felipe Saliba (18,42%, Doutor Wellington (14,09%), Ivayr Soalheiro (4,98%), Márcio Bernandino (4,62%), Wellington Silveira (4,03%), Professor Irineu (3,96%), Coronel Alvear (2,63%), Kaka Menezes (2,04%), Coronel Fiuza (1,11%), Maria Lúcia Guedes (0,75%), Lindomar Gomes (0,71%), Alfredo Cardoso (0,58%), Dulce (0,23%), Sebastião Pessoa (0,02%).” [1]
Prossegue o autor em inferência com a qual concordo: “Como se vê, a disputa eleitoral de 2020 foi muito fragmentada, o que empurrou a eleição para o segundo turno; agora, com poucas candidaturas e com a ampla coligação que deverá apoiar a prefeita Marília Campos a eleição deverá se encerrar no primeiro turno. E vamos lutar muito para que a escolhida pela população de Contagem seja Marília Campos”.
Sem dúvida, reduzidas drasticamente as opções, é bastante provável que a eleição se converta numa espécie de plebiscito no qual a população decidirá se aprova o governo Marília Campos e quer sua continuidade, ou se o desaprova e prefere mudar.
Não se trata, portanto, de uma polarização entre esquerda e direita, ou entre lulistas e bolsonaristas, como pretendem alguns analistas dos cenários eleitorais deste ano e parece ser, inclusive, o desejo tanto de Lula quanto de Bolsonaro[2]. Em Contagem, assim como na maioria dos municípios brasileiros, suspeito, os resultados de outubro tendem a ser decididos por fatores locais, como as relações pessoais, a qualidade do governo e a história individual dos candidatos. Neste sentido, tendo a endossar as opiniões de Cândido Vaccarezza[3], José Prata, César Felício[4] e outros observadores.
Se esta percepção está correta, duas perguntas são decisivas. A primeira é como está o governo perante a opinião pública. A segunda, é como está a oposição.
No caso do governo, as pesquisas mais recentes divulgadas pela imprensa, dos institutos DataTempo [5] e Realtime BIG Data[6], retratam a administração Marília Campos com aprovação muito expressiva, com números próximos a 80% dos entrevistados. Na média, quatro em cada cinco moradores de Contagem aprovam a atual gestão da prefeita. Outro dado importante é que, até onde sabemos, esta aprovação não apresenta variações importantes entre os diferentes segmentos da população, conforme a estratificação por gênero, religião, faixa de renda, escolaridade e idade. Não há um segmento que desequilibre a balança seja por amar demais a prefeita, seja por rejeitá-la vigorosamente.
Ainda assim, é relevante citar o recorte por religião na pesquisa do DataTempo, onde avaliação positiva do governo Marília chega a 77,6% entre os católicos e a 70,6% entre os evangélicos, percentuais que podem ajudar a desfazer certos temores quanto a supostas dificuldades de aprovação do governo neste segmento. Os números, enfim, demonstram a consolidação de uma opinião favorável ao governo muito disseminada entre os moradores na cidade. Os que a desaprovam são, cada vez mais, uma minoria ideológica que se move por razões de consciência e convicção, e que não mudarão de opinião, não importa o que governo faça.
Por essas razões, a melhor opção para os partidos que formam a base de sustentação do governo é convencer a prefeita e apresentá-la omo candidata à reeleição.
E quanto à oposição? Neste caso, recorro ao companheiro Fagner Sena, o vulgo Tatu que, em artigo neste blog, nos lembra que qualquer força política nunca é o que deseja ser, mas o que é possível numa dada conjuntura. “Nesse sentido, a oposição à Prefeita Marília Campos que até agora se apresenta é como é porque simplesmente não pode ser diferente. Ela é o que o espaço político permite”. [7]
O fato é que a amplitude da maioria alcançada por Marília deixa pouco espaço para a oposição que, como registrei acima, é cada vez, mais restrita a uma minoria ideológica.
A oposição, por exemplo, não pode ser propositiva sob pena de ou se confundir com o projeto político estruturante, desenvolvimentista e inclusivo coordenado pela prefeita, ou revelar sua hostilidade a esse projeto ao anunciar um conceito de cidade para quem pode pagar.
Não há como a oposição ser criativa e apontar possibilidades que seduzam pelo ineditismo, pela originalidade e pela ousadia. Quem faz isso é o governo, que aposta na construção de territórios marcados pela interação nos espaços públicos, pela alegria e pela esperança. Ademais, não há como ter mais senso crítico ou mais ousadia que a própria prefeita, sempre na linha de frente quando se trata de denunciar os erros e problemas de seu próprio governo e de realçar os interesses da cidade contra quem quer que seja. “Marília é a síntese e ao mesmo tempo enunciadora da ousadia possível da Contagem que somos e da que queremos e que podemos ser”, escreve Fagner.
Finalmente, diz o autor, a oposição “não pode ser popular porque não se escolhe, não se decide ser popular. Ser popular é um encontro entre anseios, propósitos, compromissos e práticas cotidianas estabilizadas no imaginário coletivo. E Marília representa em Contagem esse olho no olho da sua gente e na capacidade desta de se reconhecer nela, parafraseando Cândido Mendes”.
Desta forma, o espaço possível que restou à oposição é o da tentativa de produção de factoides que vão desde o esforço para amplificar os supostos erros da Administração (como no caso de obras temporariamente interrompidas em função das chuvas) até demonstrações de valentia com a invasão de equipamentos públicos e o fabrico de escândalos, como no famigerado caso das larvas.
Naturalmente, muita água há de correr debaixo da ponte até as eleições e precisamos saber como a opinião da população vai se comportar frente, por exemplo, às dificuldades causadas pelo ciclo prolongado (e em volume inédito) de chuvas neste início de ano. Ou, ao agravamento das condições de atendimento na Saúde com o súbito e preocupante aumento da incidência de dengue. Ou, ainda, à ostensiva propagação de factoides iniciada pela oposição.
De toda forma, é relevante a observação de José Prata sobre a longevidade da aprovação de Marília. “(…) pesquisa, muitos dizem, é um ‘retrato do momento’; acontece que o ‘bom momento’ de Marília Campos já é longo e já dura três anos”, escreve o autor. De fato, desde que retornou à prefeitura, Marília tem alcançado elevados índices de aprovação popular, sem oscilações comprometedoras, não obstante todas as dificuldades que tem encontrado na condução da gestão — que não são pequenas e vão desde as complexas circunstâncias do combate à pandemia de Covid-19 até os muitos imprevistos do dia a dia, passando pelos problemas herdados das administrações passadas, etc.
Ou seja, trata-se de uma aprovação consolidada, longeva e resiliente. Por mais que invente, a oposição enfrentará muita dificuldade para convencer quase 80% da população que o atual governo precisa ser trocado.
Por conclusão, sem subir no salto, é importante perceber que temos nas mãos a oportunidade para resolver a eleição que se aproxima já no primeiro turno dada a redução do número de candidaturas “pra valer” que se apresentam, a aprovação consolidada, longeva e resiliente do governo e, em especial da prefeita Marília Campos, e finalmente, a fragilidade de uma oposição sem lideranças com peso e tradição na cidade e incapaz de produzir uma interpretação da realidade municipal sintonizada com as expectativas populares.
Para isso, será fundamental investir no “espírito plebiscitário” fazendo uma verdadeira convocação geral para que a população “entre na campanha” e assuma a defesa do governo num amplo processo de mobilização popular. Esta não é uma tarefa do governo (a quem falta a vocação e os instrumentos necessários para isso, além de enfrentar limitações legais). Esta é uma tarefa do PT e, por extensão da Federação FÉ Brasil e do conjunto dos partidos que formam a base governista.
Nesta linha de raciocínio, é fundamental que os partidos que compõem a federação, em parceria com as demais agremiações que estarão em aliança no processo eleitoral se entendam, constituam seus fóruns de coordenação e resolvam seus problemas internos de organização e funcionamento.
Finalmente, como o advogado João Alves apontou em artigo neste blog[8], a bancada legislativa identificada com a situação poderá se beneficiar também da alta aprovação do governo municipal. Ao decidir o voto, a maioria dos eleitores estará mais predisposta escolher aqueles candidatos mais conhecidos e os mais identificados com a defesa da atual administração. Uma novidade importante, lembra João, é que o número de vereadores a serem eleitos este ano passou de 21 para 25 (aumento de quatro cadeiras). Com isso, aumentam também as chances dos candidatos e é possível trabalhar com a meta de um aumento significativo da bancada de vereadores do PT e da Federação – dos quatro atuais para, pelo menos, seis.
Para concluir, e no resumo, trata-se de reafirmar que temos a oportunidade de reeleger a prefeita Marília Campos já no primeiro turno da eleição deste ano, e de ampliar nossa bancada de vereadores dando à prefeita ainda melhores condições para governar por mais quatro anos. Isso poderá ser feito se não cometermos erros primários como cair nas provocações do adversário; se as agremiações que formarão a grande frente governista se organizarem adequadamente (como o PT vem se esforçando para fazer) e se soubermos criar um grande processo de mobilização popular em defesa do governo e das dimensões que o definem como popular, democrático, inclusivo e desenvolvimentista.
Ivanir Corgosinho é sociólogo.
NOTAS
[1] Ver José Prata: 2024, o ano que poderá marcar nossas vidas em Contagem. Blog do Zé Prata e Ivanir, 20/01/2024. Disponível em https://www.zeprataeivanir.com.br/6256-2
[2] Ver Lula e Bolsonaro apostam na polarização, e eleições municipais viram teste de rejeição. Folha de São Paulo, 17/12/2023. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/poder/2023/12/lula-e-bolsonaro-apostam-na-polarizacao-e-eleicoes-municipais-viram-teste-de-rejeicao.shtml
[3] Ver Cândido Vacarezza, Ilusões sobre o papel da polarização nacional nas eleições municipais. Poder 360, 05/02/2024. Disponível em https://www.poder360.com.br/opiniao/ilusoes-sobre-o-papel-da-polarizacao-nacional-nas-eleicoes-municipais
[4] Ver César Felício: Força de prefeitos relativiza polarização nas eleições. Blogo do Zé Prata e Ivanir. 20/01/2024. Disponível em https://www.zeprataeivanir.com.br/cesar-felicio-forca-de-prefeitos-relativiza-polarizacao-nas-eleicoes
[5] Ver: DATATEMPO: Gestão Marília Campos é aprovada por 73,8% dos eleitores de Contagem. Jornal O Tempo, 02/10/2023. Disponível em https://www.otempo.com.br/politica/datatempo-gestao-marilia-campos-e-aprovada-por-73-8-dos-eleitores-de-contagem-1.3244418
[6] Ver: Cidade a Cidade: moradores avaliam saúde pública como principal problema de Contagem. R7, 17/05/2023. Disponível em https://noticias.r7.com/minas-gerais/cidade-a-cidade-moradores-avaliam-saude-publica-como-principal-problema-de-contagem-17052023
[7] Ver Fagner Sena: Os Três Amores e a eleição de 2024 em Contagem. Blog do Zé Prata e Ivanir, 27/01/2024. Disponível em https://www.zeprataeivanir.com.br/os-tres-amores-e-a-eleicao-de-2024-em-contagem
[8] Ver: João Alves: Aprovação alta de Marília vai influenciar na eleição de vereadores. Blog do Zé Prata e Ivanir, 07/10/2023. Disponível em https://www.zeprataeivanir.com.br/joao-alves-aprovacao-alta-de-marilia-vai-influenciar-na-eleicao-de-vereadores