Nas últimas semanas, e praticamente todo santo dia, nosso governo é acicatado por alguma iniciativa da oposição. Nunca foram tão ativos. São pedidos de informações, denúncias de supostos desmandos ou erros, entradas não autorizadas em equipamentos públicos e em obras em andamento, além de “gentis” oferecimentos de auxílios e apoio no caso de situações calamitosas, como nas inundações de residências causadas pelas recentes e abundantes chuvas, dentre várias outras manifestações.
Com isso pretendem duas coisas: dar trabalho ao governo, que gasta tempo analisando as demandas e produzindo respostas e, criar factoides que os ajudem a se manter em evidência. A ideia é explorar fragilidades que aparecem e as dificuldades que surgem para desqualificar a gestão, apresentando-se como alternativa nas eleições deste ano.
Toda disputa por opiniões envolve pelo menos três dimensões: pessoas, fatos e narrativa. Formam opinião e ganham disputas, os melhores líderes, aqueles que têm histórico de compromisso comprovado com suas comunidades e que conseguem aglutinar, ao seu redor, um conjunto expressivo de adeptos mobilizáveis. Ganha quem tem trabalho para mostrar, um portfólio de realizações conhecidas e, portanto, é capaz de estabelecer pautar o debate de modo propositvo. E, finalmente, ganha quem consegue apresentar uma interpretação da realidade que faça sentido para as pessoas e as ajude a imaginar um futuro otimista e esperançoso comum.
O furor ativista da oposição tem a ver com o fato de não preencherem qualquer destas pré-condições. Não possuem líderes históricos no município, não podem ostentar um passado de compromissos comprovados com nossas comunidades; a cartela de serviços que já prestaram à cidade é, no mínimo, risível e, carecem de uma narrativa sobre a própria ação que despertem alguma empatia na maioria dos moradores. São apenas denuncistas e “do contra”, chegando ao ponto de repudir os show gratuitos em praça pública promovidos pelo Governo. Mas, se não for assim, como os pobres terão acesso ao entretenimento e à cultura?
Com a situação, ocorre o oposto. Não nos faltam líderes (a começar pelo gigantesco protagonismo da prefeita Marília Campos) reconhecidos na cidade, nos movimentos sociais e nos territórios; temos uma forte base social cuja dimensão e potencial ficaram evidenciados tanto no recente ciclo de encontros promovidos pelo PT, quanto no processo de eleição dos conselheiros territoriais (sem esquecer que outros partidos da base do governo, como o PCdoB, têm um perfil orgânico); o balanço das realizações dos governos Marília Campos, desde seu primeiro mandato à frente da prefeitura, é de entregas gigantescas – que ficarão ainda maiores este ano – e a cidade se reconhece no projeto que nosso governo representa e defende, como demonstram os altos índices de aprovação, tanto da prefeita quanto da gestão, registrados por vários institutos de pesquisa.
Desta forma, numa eleição que tende a materializar num confronto simples entre situação e oposição, continuidade ou mudança, as chances de vitória pendem, objetivamente, para o nosso lado.
Mas, é preciso ir devagar com o andor. Ser favorito não significa, necessariamente, vencer. No caso das eleições deste ano há que se considerar que a extrema direita, que apresentará as principais candidaturas de oposição no município, tem como propósito ampliar sua força no estado e nacionalmente. Não por outro motivo, o ex-presidente Jair Bolsonaro defende que o Partido Liberal (PL) lance candidaturas próprias, especialmente, nas cidades com mais de 200 mil habitantes. Valdemar Costa Neto, presidente da sigla, por sua vez, lançou a ambiciosa meta de conquistar mil prefeituras. Não há dúvida que virão para a disputa com força e, na ausência de capital político na cidade, devem abusar do capital dinheiro (que não lhes falta) e da disseminação de mentiras – agora com o reforço das a tecnologias de inteligência artificial (IA) generativa, cujo mau uso em processos políticos é motivo d e preocupação em todo o mundo. Vimos as possibilidades de uso negativo das IA na recente campanha presidencial na Argentina.
Nos preparativos para a campanha é necessário frisar, portanto, a importância visceral de um jurídico atento, ágil e eficaz, aliado a um monitoramento sistemático, amplo e inteligente das redes sociais.
Para além, entretanto, destas e outras providências operacionais, está a questão da mobilização na defesa do governo e da continuidade de seu projeto.
Neste caso, penso que é necessário compreender que a gana de Valdemar Costa Neto e de Bolsonaro por prefeituras não traduz apenas um apetite voraz por cargos e recursos. Há ai, como pano de fundo, a disputa ideológica em curso no mundo ocidental e que coloca, de um lado, o humanismo, o desenvolvimento inclusivo e a democracia e, de outro, a extrema direita. Em outras palavras, o que eles pretendem é desconstituir o trabalho realizado por nosso projeto e transformar nossa cidade em mais uma base de apoio à pauta da extrema direita, a um só tempo conservadora e neoliberal.
É por isso que nossa campanha não pode se limitar a um inventário de realizações, nem se ater ao debate sobre a eficácia da gestão, embora ambos façam parte de nossos méritos. É preciso chamar um movimento amplíssimo, que envolva toda a cidade, na defesa da pauta progressista.
Não se trata de aderir à estratégia da polarização. Tentar repetir, nestas eleições municipais, a polarização entre Lula e Bolsonaro, entre esquerda e direita, é um artifício precário para compensar a ausência de nomes fortes, de feitos e de uma interpretação da realidade local que faça sentido na imaginação dos moradores. Em ótimo artigo que publicamos nesta edição do Blog, César Felício, do Valor Econômico, com base nos pareceres de especialistas em eleições, mostra como a força de prefeitos e prefeitas pode romper com a estratégia rasa da polarização.
Em Contagem temos todas as condições para convocar a população, num amplo processo de diálogo e mobilização popular, para a fazer a defesa de um projeto de cidade — o nosso — no qual o Poder Público cumpre um papel indutor central. Como escrevi em artigo recente, a “mobilização ocorre quando um grupo de pessoas, uma comunidade ou uma sociedade decide e age com um propósito comum desejado por todos, ou quase todos, compartilhando a interpretação e o sentido dessa busca”. Mobilizar é criar oportunidades para que as pessoas possam transformar suas convicções em disposição para a ação e é por esse caminho, acredito, que se constrói uma base política e social de sustentação.
Assim, sem cair em provocações ou entrar em confrontos desnecessários, trata-se de trazer para o centro do processo de diálogo com a população dimensões como a valorização dos servidores, o cuidado, a inclusão, a facilitação do acesso, a criação de oportunidades, o incentivo ao protagonismo civil, esforço em favor da pacificação das relações sociais, a defesa do lazer, da alegria e da felicidade, dentre outros aspectos de nossa práxis.
Seria fundamental que uma ampla maioria de moradores se dispusesse a ir para as ruas, num amplo processo de mobilização popular, em defesa deste projeto de governo. Se um conseguirmos impulsionar uma onda de mobilização deste tipo na cidade, poderemos fazer bem mais que ganhar a eleição.
Ivanir Corgosinho é sociológo.