“Para quem tem uma boa posição social, falar de comida é coisa baixa.
É compreensível: eles já comeram”Bertolt Brecht
Para quem tem uma boa posição social, falar sobre eventos populares é coisa baixa. É compreensível: eles têm dinheiro para usufruir da cultura em suas diferentes áreas. Para quem compõe a classe trabalhadora, falar sobre eventos populares é dizer sobre democratização do acesso à cultura, oportunidades de lazer, fruição, conhecimento e felicidade.
A cultura é um direito de todos os cidadãos e não somente daqueles que possuem poder aquisitivo. Cabe ao poder público a tarefa de garantir que todas as pessoas possam usufruir de shows, peças de teatro, artes plásticas, literatura e toda fruição que a cultura e as artes oferecem.
O artigo 215 da Constituição Federal define que “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais”. Os representantes do poder público que se eximem da responsabilidade de promover ações de salvaguarda e difusão da arte e cultura estão cometendo crimes contra os direitos dos cidadãos.
Brecht, sempre tão atual, questionava: “Que tempos são esses em que é preciso defender o óbvio?”. Em pleno século XXI, após tantas lutas e conquistas de direitos ainda precisamos defender o óbvio. Em tempos difíceis a cultura e a arte estão sempre na mira dos mais gananciosos. Aqueles que contam com recursos para frequentar grandes eventos artísticos, acham que os governos não deveriam investir na difusão da cultura para todos os cidadãos.
Esperam que a arte seja mercadoria de luxo, dessas que somente alguns grupos privilegiados podem usufruir e se beneficiar. Mas esse pensamento, além de mau-caratismo também carrega consigo uma falta de conhecimentos sobre as funções do poder público frente aos direitos dos cidadãos.
Para as elites, acostumadas a pagar caros ingressos para ter acesso à arte, falar de shows em praças e parques é coisa baixa. Defender eventos públicos é coisa baixa. A elite brasileira vive em um universo em que não basta que ela acesse determinados privilégios sociais. Ela também quer impedir que outras pessoas acessem esses espaços.
E nos falta muita consciência de classe. Então não é incomum encontrarmos trabalhadores que acabam reproduzindo discursos que não os favorecem. Cidadãos que, seguindo uma onda de fake news, dizem que a cultura não é importante ou que nunca precisaram de cultura. Mas isso não passa de palavras soltas, sem muita reflexão, sem tempo para uma compreensão profunda sobre o que se trata o debate.
A cultura é inerente à vida humana. Não há ser humano sem cultura. Estamos imersos em uma integralidade em que a cultura é parte da vida de cada um de nós. A cultura não está apenas nas artes visuais ou na música, ela está impregnada nos gestos, nas tradições, na dança, na forma de ser e viver. Não há como viver sem arte, sem cultura, sem memória. Somos sujeitos ativos no processo histórico, frutos de uma engrenagem materialista e agentes de uma realidade concreta.
Promover eventos culturais é propiciar a democratização da arte e do acesso à cultura, é viabilizar a fruição, a produção do conhecimento e a aprendizagem de cada pessoa. E mais do que isso, é possibilitar o “encontro” do contagense com a cidade de um jeito diferente. Seja ao som de Frejat, envolvido em um abraço afetuoso de uma pessoa amada, ou no show do Padre Fábio de Melo, junto à família. Democratizar o acesso à shows, espetáculos e atividades culturais garante experiências sociais e estimula o nosso sentimento de pertencimento à cidade, reforçando a identidade do ser contagense.
É a partir do encontro nas praças, parques e ruas, em meio aos shows e atividades artísticas, que construímos nossas histórias de vida, nossas memórias e a história da cidade. O projeto de governo de Marília dialoga com o que há de mais nobre na arte, que é a difusão dos conhecimentos e saberes para todos. O artista quer palco e público, quer difundir sua arte, quer ser reconhecido pelos seus talentos. O povo quer ocupar as ruas, estar nas praças, usufruir de momentos de lazer com seus amigos e familiares.
Os maus políticos querem o povo longe das ruas. Eles não querem praças cheias, não querem participação popular, não querem o povo reunido. Os maus políticos têm medo do povo reunido, têm medo das multidões e da coletividade. Brandam contra os eventos populares, pois não querem expor sua fragilidade frente ao povo.
Marília, pelo contrário, defende a participação popular, as decisões coletivas e o contato direto com os cidadãos. Vai às praças, anda pelas ruas, escuta e dialoga com todos. Ela não tem medo do povo, pois ela está com o povo, ela é parte do povo. O povo confia na Marília e no seu excelente trabalho na cidade. A ocupação das ruas, praças e parques só incomoda aqueles que querem estar longe do povo, que não gostam dos populares. O projeto político do governo Marília Campos é feito pelo povo e para o povo.
Os discursos contra os eventos populares interessam àqueles que querem governar uma cidade somente para um grupo social, excluindo as minorias, à diversidade e os saberes populares. Os discursos contra os eventos populares interessam aqueles que não defendem a arte, que não defendem a democracia. Interessa àqueles que consideram que o povo deveria somente trabalhar exaustivamente e não usufruir dos momentos de lazer e conhecimento; interessam aqueles que são contra o povo, contra os direitos, contra os saberes. A arte impregna a vida de sentido. Por mais arte e cultura em todos os lugares.
Aniele Fernandes de Sousa Leão é doutoranda em Educação, pela UFMG. Mestre em Educação (CEFET), Especialista em Gestão de Projetos (USP); Graduada em História (UNIBH) e Pedagogia (UNINTER). Atua como Superintendente de Políticas Culturais na Secretaria de Cultura de Contagem.