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Lucas Fidelis: Carta Aberta aos detratores da Cultura

“dia

dai-me

a sabedoria de Caetano

nunca ler jornais

a loucura de Glauber

tem sempre uma cabeça cortada a mais

a fúria de Décio

nunca fazer versinhos normais.”

(Paulo Leminski)

Arraial de São Gonçalo, dezembro de 2023.

Estimados detratores da cultura,

Escrevo-lhes com a melhor intenção dos mundos. Percebo que vossas senhorias insistem em trazer discórdias nas demandas e reclamações da res publica cultural. Alguns, tão somente, pela santa ignorância. O que é compreensível e perdoável. Outros, deliberadamente, e por interesses obscuros, buscam a discórdia e a coisa malsã. Por essas bandas, se faz apontar para o repreensível e condenável.

Mas não me cabem apontamentos, a condenação ou julgamento. O ser humano é falho e contraditório por excelência. A minha pretensa linearidade também permeia por variações múltiplas nos dilemas e quiprocós da vida. No entanto, é necessário a busca dos caminhos em que as luzes no mínimo estejam oscilantes, trazendo subsídios, para que a retórica não se perfaça por sofismas. Ágora não é terra de ninguém. A maiêutica socrática é tablado de sabedoria.

Esclareço-lhes que os recursos direcionados para a cultura devem ser alocados- adivinhem só- na cultura. Peço-lhes que não se utilizem de evasivas ou subterfúgios recrudescidos de grupos em aplicativos de mensagens instantâneas. Não que por aqueles rincões apenas transitem informações de baixa credibilidade. Definitivamente, não. Mas a tônica da desinformação parece prevalecer.

É de bom tom informar-lhes que, a Lei Maior, em seu artigo 215, garante o acesso à cultura como um direito fundamental de segunda geração dos direitos positivos. O que significa dizer que o Estado deve atuar de maneira ativa e consistente para promovê-lo em todos os seus matizes.

Recomendo-lhes, enfaticamente, para que contemplem todas as abstrações e nuances artísticas; e mergulhem nas profundezas inimagináveis de suas potencialidades. Garanto-lhes que o transcendental surge arrebatadoramente.

Suplico-lhes que busquem, em seus âmagos, mais arraigados, a empatia e alteridade, e que se permitam evadir-se de suas fronteiras individualistas superficiais e materiais. E se não for por virtude, que seja por oportunismo, parafraseando Gramsci.

A diversidade cultural reverbera sua intrínseca vocação em um bálsamo que aprimora nossos anseios, que expande nossos horizontes, que nos faz perscrutar as nossas perspectivas mais íntimas. É o ensejo para fomentar nossos estímulos e fomentar a busca de novas formas de pensar, criar e inovar.

Ouvi dizer que por estes confins os detratores também estão sempre à espreita. Rogo-lhes que busquem as sendas do conhecimento. Que tomem parte do Projeto Cultura Viva. Da Lei Paulo Gustavo e Aldir Blanc. Não compreenderam os efeitos causados por Chico César, Alceu Valença, Mart’nália ou do legado de Tau Brasil nesta urbe. Não nos olvidemos do Clube da Esquina e do brilhantismo de Toninho Horta, o audaz. E tampouco as luzes natalinas. Se esqueceram do patrimônio cultural imaterial da Comunidade dos Arturos. Da Casa de Cacos, e pela promoção e diligência impecável de Lúcio Honorato. Do nostálgico Cine Teatro Municipal Tony Vieira. Não absorveram a importância da força presencial e mística na cidade da ministra da Cultura, Margareth Menezes, e todos os seus orixás. De Oxum a Iemanjá. A oferenda da cultura tece fios consistentes na humanidade. No caminho bíblico, perdoem-lhes, não sabem o que dizem ou fazem.

Solicito-lhes escusas se alguma vírgula se quedou ausente; se faltou-me concordância verbal ou nominal. Ou qualquer crase que o valha. Nem sempre me sobra muito tempo para uma revisão ruminada. O tempo é inexorável.

Por derradeiro, envio-lhes abraços com fervor cultural. Não os autênticos “falsos abraços” de Antônio Abujamra. E que falta faz o mestre Abu para a cultura.

Com afeto. Sua Anne”.

Lucas Corrêa Fidelis é advogado e servidor público.

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