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Chico Samarino: A defesa de Marília nas redes sociais – um grato desafio

Sim, o assunto é sobre a maneira de interagir nas redes sociais; este ambiente que surgiu faz pouco tempo, trazendo impactos profundos nas relações humanas. Um like, hoje, pode valer mais que um abraço, alguém cujo cheiro nunca sentimos representar mais nas nossas vidas do que um irmão no quarto ao lado. Um estranho mundo de telas, botões, microfones e cores manipuláveis eliminou a distinção entre o público e o privado, exigindo dos militantes uma nova atitude frente aos desafios políticos. Mas não podemos esquecer que as redes são uma parte do universo no qual vivemos hoje, influenciandas e sendo influenciadas pelo que está fora delas. O grande aprendizado que tive para atuar nas redes: respondendo questões alí colocadas, esclarecendo e criando conteúdos, veio muito mais de observações e episódios externos ao facebook, instagram, twitter (hoje X)… enfim, veio muito mais de fora das plataforma digitais do que dentro delas .

Uma parte deses aprendizados que tive, aconteceu no ano de 2020, quando fortes chuvas atingiram Contagem e a região metropolitana de Belo Horizonte, causando enchentes, mortes e perdas materiais. Achava que seria o que de pior poderia acontecer, nem imaginava que ainda estávamos no prelúdio de uma pandemia. Meu telefone tocou. Era Marília Campos, então deputada estadual, com quem eu trabalhava na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, me chamando para acompanhá-la em algumas visitas nas áreas mais atingidas pelas enchentes. Na vila São Paulo, em Contagem, muitas casas estavam arrasadas pelo córrego do Ferrugem que passa por lá. Uma moradora, ao ver Marília, teve uma atitude agressiva, proferindo ofensas. Notando meu nervosismo, Marília fez sinal para eu acalmar.

Depois que a senhora havia desabafado, Marília, em tom solidário, pegou nas mão dela e disse com toda clareza o que poderia e ia fazer: propor ao então prefeito o aumento do auxílio moradia proposto na ocasião, realizar audiências públicas para cobrar do Governo do estado a retomada das obras da hoje chamada Bacia Toshiba (obra reiniciada na atual gestão de Marília como prefeita de Contagem) para conter as águas e evitar as enchentes.

Prometeu e cumpriu. Sem agredir e sem mentir sobre os limites da sua atuação como Deputada Estadual. A senhora chorou e não disse mais nenhuma palavra agressiva. Andando, mais tarde, Marília ensinou uma coisa que nunca esqueci: era preciso, antes de tudo, saber olhar as pessoas. Por trás de tanta raiva havia muito sofrimento. Afinal, a senhora acabara de perder a casa e a então Deputada, enquanto representante pública, deveria ouvir, acolher e ser verdadeira.

O exemplo prático dado por Marília em uma situação limite serve de lição sobre como agir nas redes. É necessário compreender a situação dos indivíduos com quem estamos lidando, buscar entender o que está por trás de certos posicionamentos, ouvir (no caso das redes ler), acolher e sermos verdadeiros, edificando, construindo, elaborando os argumentos com sabedoria e conteúdo.

Existe um certo consenso entre os estudiosos, muito bem trabalhado na obra “Cultura da Conexão” de Henry Jenkins, Joshua Green e Sam Ford, sobre geração de valores e significados por meio das mídias propagados, de que os usuários ao compartilhar ou interagir com uma mensagem, não estão muito preocupados com o sentido que o produtor original do conteúdo quis dizer, mas sim com o sentido atribuído pelo seu grupo próximo, pelas pessoas que compartilharam a mensagem, com quem ela comunga uma identidade. As pessoas são receptivas aos conteúdos propagados por amigos e tendem a reproduzir o ponto de vista do seu grupo ignorando informações ancoradas em pesquisas; levantamentos; análises feitas por autoridades em determinados assuntos. As influências, no entanto, são contextuais e temporais “(..) dependendo do assunto, da credibilidade da pessoa que fala e de uma variedade de outros fatores. É claro que existem formadores de opinião, mas quem são esses formadores de opinião pode mudar substancialmente de uma situação para a outra” (Cultura da Conexão). Esses formadores de opiniões podem ser nós mesmos desde que, assim como Marília, tenhamos sabedoria na hora de agir.

Inseridos nessa realidade de desinformação, é preciso levarmos em conta dois princípios para atuarmos nas redes sociais:

1-O princípio da auto-análise: Nenhum de nós é uma ilha e todos temos tendência a sermos pautados pelos grupos sociais dentro dos quais estamos incluídos. Não seria a solidão um dos males desses tempos? É preciso nos perguntar se a informação que temos é o resultado de um processo de estudo, busca intelectual, ou apenas uma repetição automática do que está sendo dito no interior das nossas redes. Que seja, um pequeno momento no seu dia, é interessante que a pessoa estude, pesquise, para que ela não seja apenas um repetidor ou repetidora, mas sim construtor ou construtora de conteúdo.

2-O princípio do educador: Em um mundo com tantas desinformações, todos aqueles ou aquelas que buscam por informações confiáveis, reflexões lógicas e raciocínios coerentes tem um compromisso educador. O conhecimento, ao contrário da desinformação, não é algo que deva ser usado para o conflito, mas para o esclarecimento. Quem já acompanhou Marília nas ruas, sabe do seu perfil apaziguador e esclarecedor. Claro, ninguém tem que aguentar desaforo, nem deixar de ser firme, mas saber que ofensas e brigas são fermento para a mentira e a leviandade.

Marília Campos não é uma figura política que tem sua história pautada na superficialidade e na arrogância. Sendo assim, a atuação de quem acredita nela deve ser pautada pela informação e pela escuta. Ela é uma pessoa que consegue ter apoio nos mais diversos setores, até mesmo bolsonarismo, antipetistas a tem como referência pois reconhecem seu excelente trabalho. Neste site é possível encontrar informações suficientes para exercermos o “princípio do educador”. Marília é um projeto político que precisa ser cuidado: por uma cidade mais feliz e justa.

Chico Samarino é formado em história pela UFOP, mestre em História e Culturas Políticas pela UFMG. Trabalha na Secretaria de Cultura de Contagem, amante do glorioso Clube Atlético Mineiro.

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