O extremismo político é fruto da crise econômica e social. O grande pensador, José Luís Fiori, mostra em um importante artigo que divulgamos há alguns meses que o fim de ciclos de globalização multiplica as revoltas sociais e reações nacionalistas. Disse ele: “A história contemporânea sugere que Karl Polanyi tenha razão: os grandes avanços da internacionalização capitalista promovem grandes saltos econômicos e tecnológicos, mas ao mesmo tempo aumentam geometricamente as desigualdades na repartição da riqueza entre as nações e as classes sociais. E como consequência, no final dos grandes “ciclos de globalização”, aumenta e generaliza-se a insatisfação das grandes massas, e multiplicam-se as revoltas sociais e reações nacionalistas, ao redor do mundo. O que ele chamou exatamente de “duplo movimento” das sociedades de mercado. Mas se isto parece ser verdade, não é verdade que estas “inflexões reativas” tenham sempre um viés progressista ou revolucionário. Pelo contrário, elas nunca foram homogêneas, e podem tomar direções radicalmente opostas, sendo impossível deduzir teoricamente e prever de antemão a orientação ideológica e o desdobramento concreto que tomará cada uma destas revoltas, e destas explosões nacionalistas”.(…) No Brasil, a revolta social não tem sido “homogênea”; tivemos o governo Bolsonaro, de extrema direita, agora sucedido pela esquerda, com Lula. Mas Fiori destaca que, no mundo, o que temos visto é uma enorme fragilidade da esquerda por um lado e, por outro lado, “a força e a agressividade generalizada das novas lideranças e ideias da extrema-direita, associadas ao fundamentalismo e ao nacionalismo religioso, seja ele cristão, ortodoxo, judeu ou islâmico, dependendo de cada país e de cada grupo social”.
EXTREMA DIREITA PRECISA DE CRISE PARA SOBREVIVER; SEM CRISE AS PESSOAS SE “ACALMAM” E A MAIORIA ABANDONA AS IDEIAS EXTREMISTAS. Derrotamos Bolsonaro nas eleições de 2022, mas o bolsonarismo continua forte no Brasil. Como vimos na abordagem histórica de Fiori, o extremismo é resultado da crise econômica e social pós ciclos de globalização capitalista, como aconteceu no início do século 20, e, agora, 100 anos depois, no neste início do século 21. O que isto tem a ver com a disputa política de Contagem? A extrema direita precisa de uma crise profunda da sociedade contagense para convencer as pessoas a aderirem às soluções extremistas. Esta identidade com a crise é tão intensa que, mesmo quando é governo, no caso de Bolsonaro, não desceu do palanque, manteve o País em temperatura política elevada; porque um governo mais rotineiro “acalmaria” as pessoas e as distanciariam do extremismo. Para estabilizar os seus governos, a extrema direita aposta tudo na corrosão da institucionalidade e na consolidação de governos autocráticos.
NÃO IRÃO CONSEGUIR “INVENTAR” UMA CRISE EM CONTAGEM. Mas Contagem não tem crise, pelo contrário temos um clima de otimismo poucas vezes visto na história de nossa cidade; por isso a extrema direita em nossa cidade precisa “criar”, “inventar” uma crise para reduzir a maciça aprovação popular do governo Marília. (…) A extrema direita não vai conseguir criar uma crise artificial e mentirosa em nossa cidade. Marília foi eleita com 51% dos votos e tem aprovação popular de aproximadamente 80% da população; resultado de políticas de grande impacto, como a grande geração de empregos e crescimento da economia local; um grande plano de investimento de R$ 1,5 bilhão com obras em todas as áreas e regiões; o maior programa de pavimentação e requalificação urbana de nossa cidade; avanços expressivos nas políticas sociais, como na educação e na saúde, que terá uma revolução na Atenção Primária, com expansão muito dos serviços; uma vida comunitária intensa e vibrante; uma impressionante participação popular; políticas que tiraram os servidores públicos do abandono e do esquecimento; políticas ambientais avançadas, como a preservação da área rural e de Vargem das Flores. Marília tem uma aprovação com muita capilaridade: por idade, sexo, renda, escolaridade, região, atividade, religião. Pessoas de todas as tendências políticas e sem definição ideológica aprovam majoritariamente o governo Marília Campos.
A SITUAÇÃO É FAVORÁVEL À MARÍLIA, MAS NÃO PODEMOS SUBESTIMAR A EXTREMA DIREITA. Veja só: é bem provável que a extrema direita, liderada pelo PL e em Minas também pelo Partido Novo, vá tentar selecionar os candidatos de esquerda em Minas e no Brasil, especialmente do PT e do PSOL, como é o caso de Marília Campos, em Contagem, e Guilherme Boulos, em São Paulo, por exemplo, para tentar transformar estas disputas em embates estaduais e nacionais. É um grave erro subestimar a extrema direita em Contagem. De fato, as lideranças de extrema direita de nossa cidade sofreram um grande revés nas eleições para deputados, com votações pífias: Felipe Saliba (9.217 votos); Leo Mota (5.454); Junio Amaral (2.842 votos); Márcio Bernardino (4.642 votos). Mas a extrema direita ganhou as eleições em nossa Cidade, com Bolsonaro, Romeu Zema, Cleiitinho, Nikolas Ferreira e Bruno Engler.(…) Isto significa que candidaturas de extrema direita, como em Contagem, com intenções de votos ainda inexpressivas devem receber muitos recursos e muitos apoios políticos (de Bolsonaro, Nikolas Ferreira, Braga Neto e outros) para tentar “internalizar” o apoio na Cidade e tentar desconstruir, com antecedência, a petista Marília Campos. E isto já está acontecendo com um forte investimento, inclusive propaganda paga na Internet, nos últimos meses. Os vídeos locais da extrema direita estão com baixo alcance; mas tem vídeos da direita de Minas e do Brasil contra Marília com 650 mil visualizações. Ou seja, a direita vai tentar uma ofensiva de fora para dentro para tentar “internalizar” a força que demonstrou nas eleições de 2022. Precisamos estar atentos a isso.
José Prata de Araújo é economista.