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Ramon Santos: Contagem é uma festa!

Ernest Hemingway escreveu sempre de maneira apaixonante. Era um autor intenso e nem sempre tão óbvio como muitos sugerem. Pouco antes de sua morte, ao ser entrevistado por um jornalista que queria saber o segredo de seu talento em escrever contos, afirmou que simplesmente retirava a parte final dos textos que escrevia. Assim, sem final evidente, o leitor buscava em sua mente a conclusão que ficava sob brumas.

“Paris é uma Festa” surgiu de anotações que Hemingway fez em diversos cadernos no período em que viveu na capital francesa, durante a década de 1920, uma década de explosão das artes que tomaram as ruas de Paris. Pelos livros, as paisagens de Paris fluem numa espécie de aventura que vai se desvelando a cada página.

Lembrei deste livro ao me preparar para escrever este texto porque ao olhar para Contagem, encaro uma cidade em mutação desenhada por muitas mãos, mas que tem a marca da competência de Marília Campos nesta transformação. O paralelo não é apenas a obviedade da festa com o título do livro de Hemingway, mas a necessidade de olharmos com calma o rumo que Contagem está tomando.

Com Marília, os espaços públicos estão sendo retomados como efetivamente públicos. Onde havia abandono ou concreto e grades, agora emerge a criatividade humana.

O espaço onde um dia foi a fábrica Lafersa dá lugar a um centro de produção artística. Durante mais de 15 anos eram ruínas que não guardavam a memória da cidade operária. Falar em memória é falar em marca deixada pela gente que passa pelos lugares. E é por este motivo que aquele espaço não poderia ser um pastiche da fábrica que um dia foi. Tinha que ter vida, evidentemente. Assim, além do museu, teremos uma área de convivência social, um pequeno anfiteatro e um lago em área verde.

Este é o mote para a revitalização do Cine Teatro Tony Vieira. Não se trata de reerguer uma estrutura física como uma tela fria. O Cine Teatro será palco de produção de cultura em nosso município, uma casa para os talentos de Contagem.

Mas, a festa está ocorrendo nas ruas.

Começou com o pré-Carnaval e seus 12 blocos redefinindo a função e o colorido das ruas da nossa cidade. Observar como uma rua que apenas é usada como ligação entre lugares se transforma em uma arena viva em si é como a tomada de um estádio de futebol num dia de clássico: você sente a energia coletiva irradiando até no chão.

Com Marília, tivemos mais espaços públicos se tornando efetivamente arenas, como a Corrida Contagem por Todas, em março, que aconteceu na Cidade Industrial.
Foram se sucedendo o Arraiá Contagem, o Festival Gastronômico das Abóboras, o Festival Contagem Geek, o Dia Nacional da Consciência Negra, Diversão em Cena, Natal de Luz, ocupação de praças com shows envolvendo grandes artistas, de fora e da nossa Contagem.

O que precisa ser olhado com calma é esta mudança da paisagem de Contagem.
Trata-se de uma aventura urbana.

Com a ocupação, pelos cidadãos daqui, dos espaços públicos a partir de eventos culturais, a cidade ficou mais segura. Esta é uma lição importante em meio à superação do ataque violento e fascista que procurou tomar o Brasil dos brasileiros. A segurança não se conquista pela força, mas pela ocupação dos espaços pela festa, pela alegria, pelo sorriso e confiança.

Aliás, os organismos internacionais afirmam, há anos, que a diferença de estágios de desenvolvimento de uma região para outra não se dá pela diferença de renda ou instrução, mas pela confiança, que eles denominam de “capital social”. Regiões onde os cidadãos confiam em si e na sua capacidade de superar problemas comuns, geram maior desenvolvimento. Onde há desconfiança e falta de solidariedade, aparecem mais oportunistas e o desenvolvimento empaca. Em locais com alto capital social, surgem lideranças comprometidas porque bebem nas águas da cultura do cuidado, do amparo, da comunhão.

A cultura tem este condão de alimentar o capital social. Pela explosão da festa nos espaços públicos.
O que estamos vendo é, ainda, o fortalecimento da economia criativa e solidária nas ruas de Contagem pelos eventos e política de cultura. Aliás, cultura vem do latim, da palavra “colo”, que significa “ocupar um espaço com a coletividade”. E é justamente isso que Marília está nos proporcionando.

Marília vai se consolidando como uma das gestoras mais competentes de Minas Gerais. Um Estado que sempre primou por suas lideranças políticas, reconhecidamente hábeis e maleáveis. Estávamos perdendo uma outra característica da política mineira que era a liderança desenvolvimentista. JK não nasceu por acaso em Minas Gerais. O primeiro ministro da Educação do Brasil não nasceu por acaso em Minas Gerais. Minas sempre foi celeiro de lideranças desenvolvimentistas.

Para nosso azar, nos últimos anos tivemos o aparecimento de políticos truculentos e que giraram a roda da Fortuna para trás.

Mas, temos Marília. E Contagem virou uma festa!

Ramon Santos é formado em Filosofia e Teologia e pós graduado em ciência da religião e filosofia da arte. `Também é professor da Rede Pública, foi vereador pelo PT entre 1997. e 2000. Atualmente exerce o cargo de secretário de Cultura em Contagem.

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