Balaio do Kotscho, 19/11/22
Em apenas quatro semanas desde a eleição, parece que já estamos vivendo em outro país, respirando outros ares. O astral mudou. Aos poucos, a vida vai voltando ao normal, embora ainda existam muitas armadilhas pelo caminho deixadas pelas tropas vencidas, em retirada com desonra.
Como é bom poder acordar todos os dias, abrir o celular, o jornal ou o computador sem medo de tomar mais um susto. Há quanto tempo isso não era possível?
Não sei se vocês já repararam, mas quase não falamos mais nas nossas conversas o nome do inominável que abdicou do governo, antes do prazo do fim do mandato. É página virada. game over.
A pauta do noticiário virou junto com os ventos da primavera, trazendo outros assuntos para as conversas, abrindo portas e janelas, deixando entrar o ar do amanhã que nos permite novamente sonhar e fazer planos para o futuro, pensar nas festas do Natal e nas férias, e tomar uma cervejinha com calma depois do serviço, que ninguém é de ferro.
Por algum tempo ainda vamos ter que conviver com as sequelas da barbárie dos últimos quatro anos, como aqueles bandos de lunáticos pedindo intervenção militar nas portas dos quartéis, atentados em escolas e nas estradas bloqueadas, matanças policiais nas favelas, neonazistas à solta, racistas e terroristas impunes, clubes de tiro armados até os dentes e agrotrogloditas e até ministro do TCU convocando para o golpe abertamente à luz do dia.
Mas agora, pelo menos, temos esperanças de que tudo isso vá acabar logo, quando assumir o novo governo, e devolver o país à normalidade democrática.
Faltam ainda apenas 33 dias para o país ser governado novamente pelos brasileiros vitoriosos nas urnas.
Com todas as dificuldades para montar um governo de frente ampla, depois da tragédia bolsonarista, que assolou o país nos últimos quatro anos, o presidente eleito Lula vai aos poucos montando o quebra cabeças para garantir a governabilidade, arrostando setores refratários das Forças Armadas, do mercado rentista e da mídia lavajatista, que ainda resistem aos novos tempos.
Diante desta realidade, com o país em escombros, não dá mais para ninguém ficar em cima do muro. Ainda bem que nesse momento decisivo para o futuro da nossa democracia, tínhamos um cidadão de 77 anos, operário saído dos sertões nordestinos, três vezes eleito presidente no voto direto, disposto a mobilizar os brasileiros no grande desafio de promover a reconstrução nacional, que já começou.
Se não fosse ele para derrotar o exercito de ocupação, que queria se manter no poder a qualquer custo, quem seria? Alguém pode imaginar o que seria do Brasil com mais quatro anos de bolsonarismo em marcha acelerada para acabar com o país, assumindo o poder absoluto, sem um Alexandre de Moraes para lhes impor limites?
Agora podemos voltar a falar em futebol, na chuva, na loteria, em educação, saúde, segurança alimentar, cultura, defesa do meio ambiente, soberania nacional, e tudo o mais que que realmente importa, e não mais nos factóides e delírios dessa gente sem escrúpulos e sem compromissos com o país, que tanta desgraça causou ao povo brasileiro.
Posso não concordar com tudo o que o novo governo está propondo, mas quando olho para o lado, e vejo quem é contra, só me resta dar toda força ao presidente Lula e sua equipe, e rezar pela sua saúde, para nos tirar do buraco em que nos meteram em 2018, em mais um golpe jurídico-militar, perpretado pelo general Eduardo Villas Boas num tuite ao enquadrar o STF , uma sina que nos persegue desde a Proclamação da República.
Caberá a Lula, desde o início do novo governo, devolver os militares aos seus quarteis, para cumprir os preceitos constitucionais, e impor aos mercados os limites do real interesse nacional, mesmo que alguns setores da mídia não gostem.
Para isso, Lula conta com a memória dos seus governos anteriores, de onde saiu com 87% de aprovação, e os votos de mais de 60 milhões de brasileiros, em 2022.
Vida que segue.
Ricardo Kotscho é jornalista.