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Daniela Tiffany: Marília inspira e garante espaço para as mulheres

Iniciei meu trabalho com Marília Campos em 2015, na Assembleia Legislativa. Em seu segundo mandato como Deputada Estadual, ela estava empenhada em tornar permanente a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulheres e, naquela época, tive a oportunidade de compor a sua assessoria parlamentar. Vinha com a experiência no executivo estadual, o trabalho no legislativo que ampliou significativamente minha compreensão sobre diferentes áreas, outros temas e políticas públicas.

O cotidiano com Marília aguçou o meu interesse pela Política – enquanto arte, habilidade e oportunidade para a transformação social.

Marília trabalha para alcançar resultados, onde quer que ela esteja.

Enquanto parlamentar, ela percorreu, com empenho, a região metropolitana e cidades do interior para consolidação de políticas de enfrentamento às violências contra mulheres e para o fortalecimento da representatividade feminina em espaços de poder. Ações articuladas com o Executivo Estadual, com o Poder Judiciário, com o Ministério Público, com as Organizações sociais, com os movimentos de mulheres e com as feministas se tornaram uma marca da atuação de “Marília da Assembleia Legislativa.”

Dos machismos cotidianos à misoginia expressa no processo de impeachment da presidenta Dilma, fomos ampliando as dimensões das nossas bandeiras, enquanto pautas de vida. A violência contra as mulheres foi denunciada como um ataque à democracia, colocando em risco as conquistas de direitos históricos – muitos ainda não consolidados. Organizamos audiências públicas, fizemos encontros efetivos e afetivos, fortalecendo uma rede articulada em defesa dos direitos das mulheres.

Trabalhando para a aprovação de pautas institucionais, na busca de garantir a participação de pelo menos uma mulher na mesa diretora da Assembleia, Marília também fortaleceu o coletivo de servidoras para a regulamentação da Lei contra o Assédio Moral e Sexual. Ela consolidou a Comissão de Mulheres de forma permanente, que se transformou em importante espaço de discussão, formação e participação política protagonizada pelas mulheres, pelos movimentos sociais e pelas organizações feministas.

Marília convocou as mulheres para ocuparem a Assembleia e levou o movimento para as ruas. Do 8 de março, com flores e homenagens tradicionais, aos 8 de marços marcados pelas lutas, por direitos. Consolidamos “Sempre Vivas!: mulheres em luta contra as violências”, como mote de organização e atuação efetiva da atuação parlamentar.

Absurdamente, em 14 de março de 2018, todas nós sentimos os tiros que ceifaram as vidas de Marielle e Anderson. Estávamos no Fórum Social Mundial, em Salvador, quando recebemos a notícia. Dias após termos ocupados as ruas de Belo Horizonte em defesa da vida das mulheres, sentimos este crime brutal como um atentado contra todas nós. Mas é na luta e no coletivo que a gente se salva. O mote do FSM, daquele ano, não poderia nos orientar melhor para o que estava por vir: “Resistir é criar, resistir é transformar!”

Ao fim das atividades de dias intensos, entre luto e lutas, caminhando por Salvador, eu e Marília conversávamos sobre política. Ela foi me contando sobre a sua trajetória e a sua experiência nos dois primeiros mandados, enquanto Prefeita em Contagem. Era comum escutá-la nos eventos, palestras e audiências, mas naquele dia, ouvi Marília de um jeito diferente.

Ela falava da política como ela a sente em seu interior. Todas as histórias eram sobre pessoas. As ruas, as praças, as escolas seguiam ocupadas por gente, em suas memórias. Revisitei Contagem através de seus relatos. Entrei com ela na casa das pessoas. Marília não estava me relatando seus feitos enquanto prefeita. Estava compartilhando sentimentos, sentidos e efeitos de ter sido prefeita de uma cidade da qual se sentia parte. Cidade de representação política, laços e pertencimento.

Naquele ano viveríamos o processo de reeleição para deputada e já estávamos mobilizadas por mais mulheres na política. Eu não imaginava que dois anos depois Marília concorreria ao terceiro mandato para a gestão Municipal. Em março de 2020 encerramos as nossas atividades nas ruas, às vésperas do estouro da pandemia. Novo cenário de reuniões virtuais e um processo eleitoral completamente atípico. Uma eleição difícil, vencida pela confiança de Contagem em Marília. Vitória de um projeto político comprometido com a cidade e com as lutas por mais igualdade e justiça social.

Marília garante espaço e poder para as mulheres em sua gestão

Ao compor a sua equipe de Governo, Marília se empenhou diretamente para convidar mulheres para que ocupassem espaços estratégicos, em diferentes níveis de gestão. Secretárias de Educação; Desenvolvimento Social, Trabalho e Segurança Alimentar; Defesa Social; Meio Ambiente; Cultura; Desenvolvimento Urbano e Habitação; Esporte e Lazer; Controladora Geral; Procuradora Geral; além de um conjunto muito qualificado de subsecretárias, superintendentes, administradoras regionais, diretoras, gerentes, assessoras e servidoras. Todas comprometidas com Contagem, a exemplo de nossa principal liderança. Mulheres com diferentes formações, faixas etárias, trajetórias políticas e profissionais. Mulheres diversas em raça, orientação sexual, concepções religiosas, garantindo mais pluralidade à gestão.

Moara Saboia foi escolhida como liderança de governo na Câmara Municipal, em reconhecimento à sua representatividade e capacidade política.

Os contextos e desafios da política são dinâmicos e, apesar das mudanças de quadros e cenários, não devem comprometer os compromissos mais fundamentais e abrangentes com a população.

Marília foi e é a maior responsável pela permanência e pelo desenvolvimento das mulheres ao longo de sua gestão. A disputa é constante e a desconstrução também. Por mais que tentem imputar às mulheres as principais responsabilidades por desacertos e rivalidades, somos atravessadas por dispositivos muito eficientes que nos incentivam a operar em oposição a outras mulheres, como se este fosse o caminho para permanência e sucesso no poder.

Às vezes por inexperiência – e até certa dose de arrogância-, acreditamos que, conosco, o jogo será diferente. Buscamos alianças, em muitos casos, pautadas em nossas inseguranças, o que diminui a potencialidade de aliadas, que travam as mesmas batalhas, silenciosas ou declaradas. Acreditamos muito na validação dos homens e deixamos de estabelecer acordos e pactuações capazes de nos credenciar para a defesa por mais igualdade, por mais recursos e por melhores resultados para as políticas públicas, que são essenciais para a população.

Conhecendo Marília, de perto, compreendi o quanto a política é, também, substantivo feminino, feminista. Se a predominância de homens confere a eles mais experiência neste campo, compete a nós, mulheres, fazer dos espaços abertos, oportunidades para impactar a política. Admiro a vereadora, deputada, prefeita eleita e reeleita. Mas, admiro, sobretudo, esta mulher pioneira, com inteligência fora do comum e que se interessa verdadeiramente pelas pessoas e pela vida real, em suas alegrias simples e de grandes necessidades.

Marília agrega o conjunto mais diverso que eu conheço: Homens e mulheres, diferentes entre si, e que, em comum, reconhecem em Marília uma liderança única.

Ela, conhece as pessoas que a cercam, de modo singular. E ela conhece a si mesmas, de modo impressionante. Ela trabalha junto, e consegue fazer com que todas e todos trabalhem juntos, gerando resultados consistentes, a partir de necessárias convergências. Marília reconhece capacidades, compromissos e potências. Mas também sabe entender os processos, os tempos, as cissuras e complexidades que envolvem relações pessoais e políticas. Talvez, ou exatamente por isso, mantém relações longevas e renovadas por respeito e admiração.

Acredito que nosso grande desafio é aprender com Marília para desenvolver nossa própria capacidade de liderança. Seja na gestão, no bairro, na igreja, em casa, na comunidade e/ou na política, todas nós temos a oportunidade de ter voz e vez. Os resultados que desejamos e o alcance do que pretendemos podem variar, mas não podemos subestimar o nosso potencial enquanto mulheres, nas mais diferentes funções.

Marília é única, e tem garantido para ela essa prerrogativa ao incorporar o direito à autenticidade e estabelecer o valor de suas convicções. Suas realizações são inquestionáveis, mas, como ela mesma afirma, “é sempre necessário fazer escolhas e nenhuma liderança consegue resolver todas as necessidades e demandas.”

Precisamos ter mais força e confiança, para agregar pessoas em defesa das pautas e das causas que nos unem, para que sejamos realmente capazes de contribuir significativamente para a transformação da realidade quem mais precisa, gerando mais oportunidades e garantindo direitos, através de políticas públicas de qualidade. Honrando pessoas que nem sabem nosso nome, nossos cargos, nossos desafios e nossas pretensões, mas que confiam na representante que elegeram e contam com a equipe que ela escolheu.

Temos importantes papéis e compromissos a cumprir. Por todas as mulheres que vieram, por todas que virão. “Meninas motivadas se tornam mulheres imparáveis”, é a frase que retrata um dos projetos apresentados no “Volta às Aulas” na escola Municipal Jenny Andrade, na Regional Industrial. Marília foi apresentada pelas alunas como um exemplo de mulher a seguir, inspirando futuras gerações. Uma demonstração prática de que as políticas para as mulheres são transversais e devem impactar, na prática, todas as gerações. Marília é uma mulher que faz história, em seu tempo.

Nunca disse que seria fácil, nunca foi!

Mas ela sempre demonstra que é possível e extremamente necessário se colocar à disposição para que o imprescindível não seja mais adiado.

Que sejamos mais Marília, em coragem, cuidado e inteligência. Que a oportunidade nos traga força, experiência e confiança para que sejamos mais generosas conosco e entre nós. Já sabemos lutar. Com Marília aprendemos que, coletivamente, podemos vencer!!

Homenagem à Marília, Cida Miranda, Mara de Castro, Michele Caldeira e à todas as mulheres, servidoras públicas e cidadãs contagenses. Mulheres de Lutas e Realizações!

Daniela Tiffany é psicóloga e Mestre em Psicologia Social pela UFMG. Secretária de Desenvolvimento Social, Trabalho e Segurança Alimentar da Prefeitura de Contagem.

 

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